O dólar (USDBLR) à vista fechou a quinta-feira em baixa ante o real, pela segunda sessão consecutiva, com investidores desmontando posições defensivas no mercado de câmbio, em meio à leitura de que ainda que o Federal Reserve possa adiar para depois de março o início do ciclo de cortes de juros, isso tende a ocorrer ainda no primeiro semestre.
Paralelamente, o Banco Central não divulgou no início da tarde, como de costume, o fechamento da taxa de câmbio Ptax, o que prejudicava os negócios no Brasil, segundo operadores.
O dólar à vista fechou o dia cotado a 4,8755 reais na venda, em baixa de 0,34%. Em janeiro, a moeda norte-americana acumula alta de 0,49%.
Na B3, às 17:52 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,43%, a 4,8845 reais.
O foco do mercado de câmbio nesta quinta-feira estava na divulgação dos dados mais recentes de inflação do Brasil e dos Estados Unidos – em especial, o número norte-americano.
Às 10h30, o Departamento do Trabalho dos EUA informou que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,3% em dezembro, depois de ter avançado 0,1% em novembro. O custo de moradia foi responsável por mais da metade do aumento do índice.
Nos 12 meses até dezembro, os preços ao consumidor aumentaram 3,4%, depois de alta de 3,1% em novembro. Economistas consultados pela Reuters previam altas de 0,2% no mês e de 3,2% na comparação anual.
Os números acima do esperado fizeram os rendimentos dos Treasuries renovarem algumas máximas no exterior e deram certa sustentação ao dólar ante as demais divisas.
Por trás do movimento estava a leitura de que, com a inflação acima do esperado, o Fed terá menos espaço para iniciar seu ciclo de cortes de juros já em março.
Este entendimento fez o dólar à vista renovar a máxima no Brasil até então, de 4,8940 reais (+0,04%), às 11h07, mas o impulso era claramente limitado.
“O que aconteceu aqui foi o desmonte de posições defensivas (no dólar) quando (a cotação) bateu nos 4,89 reais, por uma leitura de que, mesmo que o dado (de inflação) tenha vindo um pouco acima do esperado, ele ainda não muda a intenção do Fed de cortar juros”, comentou o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik.
Na avaliação do diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, os dados do CPI foram piores do que o esperado, mas “não tão ruins”.
“Eles vieram em linha com as projeções do Fed de Cleveland”, pontuou. “Após os números, a bolsa piorou, o dólar subiu, mas tudo dentro do roteiro. Os dados não mudaram a visão de um dólar fraco no Brasil, porque o Fed vai cortar juros, ainda que não seja em março”, acrescentou, lembrando que a balança comercial brasileira também segue favorável, o que favorece cotações mais baixas.
Em meio a esta percepção, o dólar à vista marcou a mínima de 4,8592 reais (-0,67%) às 11h38.
Durante a tarde, a moeda à vista voltou a se fortalecer ante o real, com o dólar também ganhando força ante outras divisas no exterior. Isso fez com que a moeda marcasse a máxima do dia às 15h01, de 4,8960 reais (+0,08%), mas a divisa retornou ao território negativo logo depois.
Durante a tarde, profissionais também afirmaram que o atraso na divulgação do fechamento da taxa de câmbio Ptax, pelo Banco Central, prejudicava os negócios. O fechamento foi divulgado com cerca de 4 horas de atraso, pouco depois das 17h. Isso ocorreu por conta do movimento dos servidores do BC, que tem adiado divulgações de dados econômicos desde o ano passado.
No início do dia, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrou 2023 com alta acumulada de 4,62%, ficando abaixo do teto da meta (4,75%) perseguida pelo BC. Foi a primeira vez que o BC cumpriu a meta depois de dois anos consecutivos de estouro, em 2021 e 2022.
A inflação brasileira, no entanto, teve pouca influência sobre o câmbio, segundo alguns profissionais.
Também pela manhã, o BC vendeu todos os 16.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados na rolagem dos vencimentos de março.
Às 17:52 (de Brasília), o índice do dólar que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas subia 0,01%, a 102,350.