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Dinheirama Entrevista: Bianca Cutait, fundadora da galeria “Arte Fundamental”

by Redação Dinheirama
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Como você enxerga o mercado de arte? Consegue vê-lo como um investimento? Pois saiba que, no mundo inteiro, há investidores físicos e corporativos que apostam na modalidade como uma forma de diversificar a carteira. É preciso, porém, entender os pontos-chave relacionados à compra e venda de obras antes de partir para esta empreitada. Para levar a você informação correta – e muito interessante – sobre o assunto, o Dinheirama conversou com Bianca Cutait, fotógrafa profissional, art adviser e fundadora da galeria “Arte Fundamental”, em Miami.

Bianca começou a carreira atendendo pequenos grupos de investimento e logo desenvolveu uma ampla gama de estratégias para galerias. Passou, inclusive, a oferecer o serviço de art advisory para grupos de investimento no Brasil, Europa e Estados Unidos. Confira a entrevista!

Bianca, pode nos contar um pouco sobre sua formação e trajetória até chegar onde está hoje? Como se deu a escolha de trabalhar com arte como investimento?

Bianca Cutait – Eu iniciei minha carreira de “advisor” antes mesmo de me tornar profissional. Sou fotógrafa profissional desde os meus 16 anos. Aos 19 anos comprei 3 obras do mesmo artista, pequenas, singelas e que cabiam no meu bolso de estagiária. Comprei porque gostei e porque alguém de mercado tinha me falado que o artista iria fazer uma exposição importante num museu em Londres. Dito e feito, 1 ano e pouco depois o artista explodiu e eu recebi uma proposta de vender uma das obras num leilão em São Paulo. Com o valor da venda desta peça, que na época foi em torno de 5 vezes o que eu havia pago nas três, eu paguei meu investimento inicial e comprei mais 2 peças de uma artista que eu adorava. Vendi uma e fiquei com outra. E fui “brincando” de fazer isso até que algumas pessoas começaram a me perguntar: “O que você compra? Como você escolhe?” Ai eu tive que profissionalizar meus conselhos. Era engraçado e bem humilde, mas virou uma carreira.

Muitos investidores gostariam de diversificar seus investimentos. No caso do mercado de arte, qual seria o passo inicial para começarem a olhar para este setor de uma maneira diferente? Você trabalha com fundos de investimento destinados a este setor, certo?

B.C.: Sim, atendo fundos há algum tempo. Há sempre consultores especializados para o  fundo ou mesmo o investidor que diversifica o portfolio com bens alternativos, como arte (o mais procurado), vinhos, carros antigos etc. Isso é o mais importante, em qualquer compra, até mesmo para ter em casa uma obra de arte: ter um advisor competente, qualificado e de confiabilidade, mas mais do que tudo discreto e honesto. Para mim, o passo inicial é procurar trabalhar com esse tipo de profissional. No Brasil existem poucos, mas fora do Brasil isso vem sendo cada vez mais rígido e abrangente. Um dos fundos que eu atendo tem 5 marchands especializados, eu sou um deles. Eles compram com quem apresentar o melhor projeto financeiro proposto para aquele período. São rígidos e competitivos. E corretos, o que para mim é crucial, bato muito nesta tecla.

O que se deve levar em consideração ao escolher uma obra de arte como investimento?

B.C.: A primeira coisa é estabelecer uma provisão, quanto de montante pode ser alocado para esta compra. A partir deste teto, existe o fator crescimento estratégico, ou seja, como a carreira do artista está avançando ou o quanto está sendo planejado para avançar. Nesta hora existe a necessidade de um advisor competentissimo. E acima de tudo disponibilidade de fazer esse tipo de investimento, que pode ser de médio a longo prazo. No caso de muitos colecionadores que compram para si, mas já com o intuito de vender no mercado secundário, existe o fator mais importante de todos: paixão.

Como alguém que vai comprar uma obra pode saber se o valor cobrado está justo ou de acordo com o que vale?

B.C.: Sempre a proveniência da obra é o mais importante para a precificação. Conheço um marchand que tem uma carreira bem polêmica, e as peças que passam pela sua mão acabam muitas vezes sendo descartadas porque ele não tem credibilidade no mercado. Mas obra de arte alcança o valor de venda a partir de vários fatores, o primeiro sendo o currículo do artista, que deve ser montando junto com seu agente ou galerista. Artista sozinho não faz currículo. A obra de arte só tem valor comercial quando é passada de mão. E vender para o amigo do primo não conta… E só ter um dom artístico também não. A proveniência é o segundo fator, na minha opinião.

Levando em conta sua experiência e visão de mercado, você acredita que há muitas diferenças entre o investidor brasileiro e outros investidores quando se trata do mercado de arte? Ainda há muito a ser feito por aqui?

B.C.:  Nossa, muitas diferenças! O investidor brasileiro (e latino de uma forma geral) está financeiramente preparado fora do seu país para comprar. O investidor americano, por exemplo, está mais interessado em comprar dentro do seu nicho, e revender para os que vêm de fora e estão financeiramente preparados. Parece pouco, mas a diferença do volume dessas revendas, o que chamamos de mercado secundário, é enorme. O que tem que ser feito no Brasil, na minha opinião, é haver um mercado institucional (museus, faculdades, etc.) infinitamente mais preparado. Hoje, em São Paulo, temos alguns locais de altíssimo nível, como o MAM, o MASP e a Pinacoteca, mas fora de SP está tudo “capenga”, não sei qual outra palavra melhor pra descrever. O MAM do RJ está vendendo uma obra importantíssima para pagar as contas. As empresas não querem investir em museus, por exemplo, com medo do famoso “pente fino”, e mesmo as que não têm esse medo, só podem doar uma pequena quantia dos seus impostos. Mas isso é uma conversa longa…

Onde está o maior investimento em arte no mundo hoje? E onde se ganha mais com arte?

B.C.: Nas boas galerias, que participam de boas feiras, com bons artistas. No Brasil temos o SP-Arte e a ArteRio, duas feiras excelentes. O mercado todo teve uma revolução há alguns anos com a famosa feira Art Basel, hoje em 3 países (Suíça, EUA e Hong-Kong). Durante as temporadas, as respectivas cidades param para receber investidores, colecionadores, artistas, admiradores, curiosos. Os números são astronômicos, existe um relatório financeiro anual do UBS que mostra alguns desses números. Hoje em dia o maior investimento está realmente nas feiras, onde as melhores galerias profissionais podem mostrar seu melhor, e nos leilões das 4 casas mais importantes: Christie’s, Sotheby’s, Phillips e Bonhams.

É preciso muito capital para começar a investir?

B.C.: Eu comecei com salário de estagiária e trocando fotografias minhas com outros artistas.

Gostaria de dar uma sugestão para quem está lendo sua entrevista agora e começa a pensar melhor nas muitas alternativas financeiras geradas pelo mercado de arte?

B.C.: Estabelecer um teto para comprar uma peça que seja apaixonante para os olhos e admirável para o bolso; estudar, procurar saber o que existe de bom e acessível; procurar uma boa galeria, um bom marchand, um advisor correto; respirar fundo e ir adiante, ficar feliz com a compra. E depois repetir tudo de novo. Ficar viciado…

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