Realizar terapia via internet: você já ouviu falar ou experimentou? Desde 2005 já existia no Brasil uma resolução permitindo que psicólogos pudessem realizar orientações à distância, e em 2018 o Conselho Federal de Psicologia aprovou a psicoterapia on-line no Brasil.
O fato é que, ao longo do tempo, a prática foi se intensificando como tantas outras coisas que passaram a ser realizadas via internet (afinal, com a vida corrida que se leva, não é mesmo?!) e negócios foram surgindo.
Conversamos com Milene Rosenthal, psicóloga e Co-fundadora da TelaVita, marketplace de saúde digital.
A startup tem como objetivo conectar profissionais da psicologia brasileira a pacientes de todo país por meio da tecnologia e com as devidas autorizações do Conselho Federal de Psicologia. “A demanda não para de crescer, pois estamos vivendo um momento difícil em relação à saúde mental, não só no Brasil como no resto do mundo.
É importante lembrar que hoje o 3° maior motivo de afastamento do trabalho é por algum transtorno de saúde mental, principalmente a depressão que acomete um grande número de pessoas.”
Milene, você poderia contar um pouquinho de sua trajetória profissional até fundar a Telavita?
Milene Rosenthal: Sou psicóloga formada há mais de 20 anos e, logo que me formei, comecei a trabalhar na área de Recursos Humanos, onde permaneci por 15 anos. Em 2011 trabalhava como Diretora de RH de uma multinacional europeia, mas uma pergunta mudou totalmente a rota da minha carreira: “Milene, por que o psicólogo não atende via internet? Estou fazendo terapia para superar a minha separação, mas como viajo muito a trabalho, não consigo manter a frequência que deveria. Estou sofrendo muito, e se a minha terapeuta atendesse on-line, seria fantástico.” Na sequência, comecei a pesquisar sobre o tema, e para minha surpresa existia uma resolução no Brasil que permitia o psicólogo realizar orientações à distância desde 2005.
Após várias pesquisas, percebi que não havia nenhum site que oferecesse esse tipo de serviço, e tive a ideia de construir uma plataforma que pudesse conectar pacientes e psicólogos com total segurança e privacidade. Após muito trabalho, investimentos e madrugadas fazendo testes, consegui colocar no ar a primeira plataforma de atendimento psicológico on-line no Brasil, e em 6 meses já estávamos com 15 psicólogos cadastrados. Em paralelo a esse trabalho, conheci o núcleo de terapia online da Universidade de Toronto, e fui a primeira psicóloga da América Latina a ter a certificação de Cybercounselling. O meu interesse foi tanto pelo tema, que os diretores me convidaram para coordenar o núcleo português, e hoje já formamos 2 turmas no Brasil. Em 2014 tive um reconhecimento muito relevante, pois ganhei em 1º lugar o Prêmio Mulher de Negócios do Sebrae – foram mais de 2600 projetos inscritos e naquele momento fiquei muito mais confiante, pois sabia que estava no caminho certo!
Durante todo esse período, também participei ativamente de todos os trabalhos junto ao CRP-SP para que a psicoterapia on-line fosse aprovada no Brasil, assim como vários países já fazem, pois a resolução anterior só permitia orientações breves e de até 20 sessões. No final de 2018, o Conselho Federal de Psicologia aprovou a psicoterapia on-line no Brasil. Com certeza um marco na história da psicologia brasileira que com muito orgulho tive a oportunidade de participar.
Em 2016 saí da minha 1ª startup, com mais de 4.000 atendimentos online realizados, e na sequência, encontrei 2 empreendedores – Lucas Arthur e Andy Bookas -, que já atuavam na área de bem-estar, e assim, fundamos a Telavita. No 2º semestre de 2017, ganhamos o 2º lugar do G-Startup da América Latina (ligado ao Vale do Silício) como uma das startups mais promissoras em saúde no Brasil.
Hoje estou à frente da Telavita, onde coordeno mais de 100 psicólogos on-line, e também sou responsável pela área de negócios e relacionamentos com o mercado.
Quais as vantagens da conexão entre pacientes e psicólogos via meio on-line hoje em dia? Percebe que há muita demanda?
M.R.: Existem inúmeras vantagens, principalmente em relação à maior velocidade no agendamento, pois hoje existe uma grande dificuldade da população em acessar um psicólogo presencial. Recebemos diversos relatos de pessoas que têm plano de saúde indicando uma demora significativa em conseguir agendamento ou, se é particular, o valor da sessão geralmente é mais alto.
Outras vantagens: pessoas acamadas e com doenças crônicas que têm dificuldade em se locomover, cidades que não têm psicólogo disponível, brasileiros residentes no exterior e economia de tempo quando pensamos na dificuldade da mobilidade urbana das grandes cidades.
A demanda não para de crescer, pois estamos vivendo um momento difícil em relação à saúde mental, não só no Brasil como no resto do mundo. É importante lembrar que hoje o 3° maior motivo de afastamento do trabalho é por algum transtorno de saúde mental, principalmente a depressão que acomete um grande número de pessoas.
E as desvantagens? Acredita que em alguns casos o on-line não vai substituir a presença física para alguns pacientes? Como saber se me adapto ou não?
M.R.: Não consigo ver desvantagens, pois existem vários estudos científicos que indicam a eficácia desse atendimento, e em alguns casos um maior engajamento do paciente. Entretanto, é importante ressaltar que esse tipo de atendimento não é indicado para casos de emergências e apoio a desastres, pois nesses casos é fundamental uma ação presencial.
Com relação a valores, as sessões realizadas on-line têm custo diferente das sessões presenciais (em média?)
M.R.: Sim, é possível reduzir um pouco o valor da sessão já que o profissional elimina muitos custos, como por exemplo, a manutenção de um consultório físico e o deslocamento.
Como a Telavita é remunerada?
M.R.: A Telavita cobra uma taxa por sessão do psicólogo e, em contrapartida, ele tem acesso ao consultório digital com inúmeros recursos, participa da nossa comunidade e aumenta a visibilidade de seu trabalho através das nossas ações em marketing. Também temos contratos com empresas e planos de saúde onde cada contrato tem um valor de acordo com o número de atendimentos e especificidades do projeto.
Quantos profissionais estão cadastrados na Telavita? E quantos pacientes já passaram por lá?
M.R.: Hoje temos mais de 100 psicólogos especialistas de todo Brasil que foram entrevistados e treinados para atender no ambiente seguro da Telavita e realizar atendimento psicológico a distância. A nossa expectativa é que até Julho de 2019, tenhamos mais de 500 profissionais. Atualmente temos psicólogos que atendem em inglês, espanhol, alemão, libras e um psicólogo com deficiência visual.
Como enxerga a importância da manutenção da saúde mental nos dias de hoje?
M.R.: A saúde mental vai muito mais além do que a simples ausência da doença, pois é um equilíbrio do mental, social e bem-estar físico. É fundamental que as pessoas tenham saúde mental para desempenhar de forma equilibrada suas habilidades pessoais e profissionais. Sempre enfatizo a importância do autoconhecimento, pois esse é o maior emponderamento que uma pessoa pode ter – quanto mais me conheço, mais chances tenho de tomar decisões corretas em minha vida, e assim atingir meus objetivos. O maior desafio nesse século é ter a habilidade de se relacionar, pois o mundo moderno está produzindo a cada dia pessoas solitárias e com menos habilidade em se socializar.
O que espera para a Telavita nos próximos anos?
M.R.: O nosso maior objetivo é transformar a Telavita em referência nacional e mundial em telemedicina através da excelência de nosso trabalho. Temos uma grande responsabilidade, pois sabemos que saúde é algo sério e que precisa ser cuidado com muita ética. Estamos crescendo a cada dia, e mesmo atuando em um ambiente digital, não abrimos mão da humanização e segurança do nosso atendimento.