Os economistas-chefe de alguns dos principais bancos com atuação no país indicaram nesta terça-feira que o resultado fiscal do Brasil e o crescimento menor da economia da China são fatores que preocupam no atual cenário econômico brasileiro.
Em evento promovido pelo Santander em São Paulo, o economista-chefe do BTG Pactual (BPAC11), Mansueto Almeida, afirmou que o mercado financeiro hoje não acredita que o governo vai entregar as metas fiscais estabelecidas para os próximos anos.
Atualmente, o governo persegue déficit fiscal de 100 bilhões de reais em 2023 e resultado primário zero para 2024. Para 2025 e 2026, as expectativas são de superávit fiscal de 50 bilhões de reais e de 100 bilhões de reais, respectivamente.
“Seria um ajuste de 200 bilhões de reais em três anos. Se o governo conseguir isso, a dívida vai crescer devagar”, pontuou Mansueto, acrescentando que, ainda assim, a dívida bruta aumentaria no período.
No debate, o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, disse que a estimativa da instituição é de que a dívida bruta brasileira crescerá 10% até o fim do governo Lula.
“Não conheço um economista que esteja projetando déficit zero no ano que vem. Como vai se dar isso? Vai chegar um dia em que o governo vai mudar a meta?”, questionou.
Em entrevistas recentes, os próprios representantes do governo têm afirmado que alcançar o déficit de 100 bilhões de reais este ano será uma tarefa difícil, mas o valor segue servindo de parâmetro para este ano, assim como o resultado primário zero segue como a referência para o próximo ano.
“No curto prazo, tenho muita dúvida sobre como o governo vai fechar o orçamento do ano que vem. A meta de déficit zero é muito difícil”, avaliou Cassiana Fernandez, economista-chefe do JP Morgan. Ao mesmo tempo, segundo ela, se o governo voltar atrás na meta, o impacto nos mercados seria ruim.
Mais cedo, o presidente do BTG Pactual, Roberto Sallouti, disse que está “um pouco preocupado” com o cenário fiscal do Brasil, em sua visão muito dependente do aumento da arrecadação.
China
Ao avaliarem o cenário externos, os economistas citaram preocupações com o futuro da política monetária nos Estados Unidos, em meio às dúvidas sobre se o Federal Reserve elevará sua taxa de juros mais uma vez ainda em 2023.
Porém, mais que os EUA, a China é o principal foco de preocupação. Nas últimas semanas, uma série de dados e notícias vindas do gigante asiático impactaram negativamente os mercados globais.
“Tem tirado um pouco nosso sono a China. Os EUA também, mas a situação é um pouco mais positiva”, comentou Honorato, do Bradesco. Segundo ele, a “sorte” é que o mundo vive hoje em um ambiente de juros elevados e, caso haja um colapso da China, haveria espaço para as economias atuarem.
Para Mansueto, a China não pode enfrentar três ou quatro anos de crescimento baixo, porque o país carece de programas sociais.
“A China não tem grandes programas sociais. Se este país para de crescer, pode colocar em risco o próprio sistema chinês. O que a gente não consegue entender é por que o governo está tão reticente em apoiar de forma mais firme o crescimento”, disse Mansueto.
Recentemente, o próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, expressou preocupações quanto ao crescimento da China — importante comprador de produtos brasileiros, em especial commodities agrícolas.