Gilberto comenta: “Navarro, tenho lido muito sobre investimentos, dinheiro e patrimônio. Confesso que o tema me fascina, mas não consigo colocar em prática uma rotina que me permita investir de maneira inteligente e contínua. Acho que estou precisando entender melhor a importância disso tudo para, assim, elevar essas decisões em minha árvore de prioridades. E agora? Obrigado”.
Os exemplos mais fascinantes (e famosos) de investidores costumam indicar características bastante comuns e simples, mas frequentemente mal interpretadas: disciplina, planejamento, estratégias, networking e coragem são os pontos mais usados para diferenciar aqueles bem-sucedidos dos “simples mortais”.
Certo, mas isso não é óbvio demais?
Sim, é óbvio – e isso é bom e ruim. Bom porque retrata os mestres como pessoas comuns, gente que colocou em prática um método (próprio ou não) para lidar com seus recursos e multiplicá-los. Ruim porque como se trata de aspectos comuns, fica latente a conclusão de que “se fosse simples, qualquer um conseguiria imitá-los ou copiá-los”.
Você deve ter reparado como são inúmeros os livros e sites que tratam de maneiras, roteiros e dicas sobre como enriquecer através da bolsa de valores, ideias de negócios e outras coisas mais. Depois de ler grande parte deste material, percebi que muita coisa realmente funciona, mas que o problema não está em aplicar tudo o que está ali, mas em ver um sentido para o que estamos aprendendo.
Chegamos a um parágrafo crucial: a diferença não está só nas ferramentas, mas essencialmente no comportamento dos indivíduos que alcançam seus objetivos. Caímos na esfera subjetiva das finanças, o que dá margem para muitas divagações e interpretações. Evitarei confundi-lo e, neste sentido, farei um resumo do que penso sobre tudo isso a partir de cinco itens:
1. Saber investir significa investir sempre. Muitos leitores querem saber qual é o “melhor investimento”, mas raramente procuram associar a decisão de investir a um horizonte temporal e metas claramente precificadas. Não adianta esconder-se na desculpa de que a tal “grana extra” será investida; o que realmente fará diferença é a força ao encarar a necessidade de adiar o consumo, todo mês, para investir na realização de um objetivo (que pode ser de consumo, claro).
A realidade de reavaliar o orçamento mensal e o padrão de vida, que acarretará em uma eventual frustração por ter que deixar de fazer alguma coisa, será recompensada pela chance de ter uma vida mais livre e menos ancorada em expectativas dos outros e exigências sociais ridículas.
Lição 1: O investidor bem-sucedido preocupa-se com seu patrimônio porque ele lhe dá liberdade, não porque faz dele alguém “maior” ou “diferente” do vizinho.
2. Se você quer saber quanto vai ganhar, tenha um bom emprego. Tirar uma ideia do papel exige muito mais que dinheiro, um bom modelo de negócios e apoio familiar – estas as principais desculpas dadas por quem prefere deixar as coisas como estão. Se você não suporta a saga de mudar muitas vezes suas responsabilidades, sua rotina e sua vida antes de ver-se realizado, prefira ser um empregado.
Se você não suporta fracassar ou acha que o fracasso é “coisa de perdedores”, fique onde está. Aqui não faço crítica ao emprego formal – a questão não é o que você faz, mas o que você realmente quer fazer e quem você realmente é.
Lição 2: O investidor bem-sucedido perde muito dinheiro, mas aprende e, no balanço final, ganha mais do que perde.
3. Assumir riscos não significa que você precisa “vai perder tudo”. O medo diante do desconhecido é normal e necessário, mas não pode ser a resposta ao desafio imposto. O medo deve ser parte do processo, deve servir para criarmos estratégias capazes de dominá-lo e, apesar dele, buscar oportunidades. Entra em cena o gerenciamento de riscos, uma ação fundamental para garantir que os recursos estão alocados de maneira inteligente.
Lição 3: O investidor bem-sucedido sabe que algumas decisões poderão representar perdas significativas, mas ele nunca arrisca o dinheiro que garante seu padrão de vida e o bem-estar familiar.
4. A oportunidade provavelmente está disfarçada. Então o Warren Buffett é o seu ídolo? Legal, mas depois de tantos livros sobre ele, ainda temos apenas um Warren Buffett. Ora, ele toma decisões segundo princípios muito difundidos na literatura de investimentos, mas só analisamos suas “tacadas” tempos depois (quando então vimos que ele acertou em cheio mais uma vez).
Enquanto todo mundo comprava e vendia ações de empresas de Internet, lá nos idos de 1990 e 2000, Mr. Buffett aumentava suas posições na maior fabricante de refrigerantes do mundo. Deu no que deu, né?
Lição 4: O investidor bem-sucedido acredita mais em evidências do que em especulação, e por isso aloca seu patrimônio no sentido de gerar valor de longo prazo.
5. Informação demais pode paralisá-lo. A situação se repete em muitos lares: brasileiros cada vez mais interessados no tema “investimentos”, lendo mais, buscando informações na Internet e com seus gerentes. Diante de tantas opções de investimento, a sensação de ser um “ignorante” e a aparente complicação paralisam a tomada de decisões.
Tenho notado muita gente querendo saber tudo sobre este ou aquele investimento, o que é bastante cansativo (e improdutivo). Compartilhe suas experiências, procure ajuda especializada (pague por isso, se for preciso) e seja mais objetivo.
Lição 5: O investidor bem-sucedido é uma pessoa bem informada, mas principalmente bem assessorada.
É claro que eu simplifiquei um pouco as coisas neste artigo. O recado, no entanto, é aquele mesmo de sempre: cuidado com a busca pela “melhor hora para começar a investir” e o “melhor investimento”. Entre esperar a hora certa para começar (a investir, economizar ou o que quer que seja) e simplesmente começar com o possível, a segunda opção sempre contribuirá para um legado maior e melhor aproveitado.
Se você é apaixonado pelas histórias fascinantes de personagens místicos das finanças e empreendedorismo (como eu sou), valorize a lição que eles tanto insistem em compartilhar: a jornada precisa ser vencida com esforço constante, não apenas com tacadas brilhantes.
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