As discussões em torno da economia mundial andam acaloradas. Será que a crise realmente começou a dar sinais de que caminha para dias melhores? Europa ainda apresenta altos índices de desemprego, mas países começam a receber ajuda e colocar em prática seus planos de austeridade. Será suficiente?
As discussões por aqui parecem ter um tom diferente. Não se fala de crise, afinal de contas estamos com uma das taxas de desemprego mais baixas de nossa história, mas muito se comenta sobre inflação – logo o Dragão, que parecia apenas uma lembrança do passado – e sobre os rumos da economia diante do desafio de crescer.
Ninguém melhor que um economista com larga experiência para comentar tudo isso. Compartilhei com Alvaro Bandeira, sócio e economista-chefe da Órama, algumas questões relacionadas ao nosso país. Ele é otimista, mas pontua importantes aspectos em que podemos melhorar e tomar mais cuidado.
Confira como foi esse papo:
Álvaro, os Maias estavam errados e chegamos a 2013. O que podemos esperar da economia no Brasil e no mundo? Teremos dias melhores?
Alvaro Bandeira: No mundo é possível estimar quadro de lenta melhora nas principais economias, com muita assimetria de recuperação entre países, principalmente na zona de influencia da União Europeia. Algumas questões são cruciais para consolidar essa posição de recuperação.
Qual o ambiente de negociação dos cortes de orçamento americano e teto ampliado da dívida, quais os projetos a serem desenvolvidos pelos novos governos da China e Japão e como os organismos multilaterais e sistema financeiro ajudarão no crescimento global. Há ainda muitas questões a serem respondidas, mas o quadro parece melhor.
No âmbito interno, a situação parece mais complicada diante dos desafios impostos ao governo de fomentar investimentos privados e estrangeiros, ampliar a competitividade de nossas empresas, manter contas públicas equilibradas e ainda cuidar da inflação elevada.
Também aqui existem inúmeras questões abertas, como o problema energético, a crescente interferência governamental em setores e empresas, a política cambial pouco definida e a participação ampliada de empresas públicas. Aparentemente, teremos dias melhores, mas não sem acidentes de percurso e sustos.
Você e a Sandra Blanco, ao lado de toda a equipe da Órama, criaram um eBook gratuito (download aqui) muito interessante sobre os possíveis cenários econômicos para o próximo ano. Ficamos bem impressionados com a linguagem muito acessível e de fácil entendimento. Conte-nos um pouco sobre os objetivos do material e como nosso leitor pode baixá-lo.
A. B.: A ideia foi exatamente essa: abordar temas bastante áridos num ambiente amigável e de fácil entendimento, contribuindo para o aprimoramento e formação de investidores que terão de buscar novas formas de aplicação para seus recursos.
Nosso eBook será revisto periodicamente em função de mudanças na conjuntura global e investimentos e pode ser acessado e baixado gratuitamente a partir de nosso site, bastando informar nome e email. O leitor interessado deve clicar aqui para fazer o download.
Percebi no eBook um destaque especial para a inflação. Ela continua sendo uma preocupação para o ano, mas ao mesmo tempo somos surpreendidos por notícias de que a captação da poupança em 2012 foi recorde. A poupança já perde para a inflação e as pessoas ainda não perceberam isso? Como explicamos esse paradoxo tendo como expectativa um cenário de juros futuros muito parecido com o que temos hoje?
A. B.: Sem dúvida, o cenário de juros e inflação para 2013 está muito próximo do ocorrido em 2012. Como consequência, os ganhos serão reduzidos para quem não se dispor a correr algum risco. A inflação é crucial nisso já que segue elevada e qualquer desvio pode levar para cima da banda de variação da meta em 6,5%, reduzindo ou produzindo ganho real negativo.
A captação tão expressiva da caderneta de poupança em 2012 se explica por três razões: 1) facilidade e costume de aplicação; 2) pagamentos de salários via conta poupança; e 3) falta de conhecimento/percepção sobre outras modalidades de aplicação.
Existe uma pressão por parte de alguns setores do mercado, que pedem mudanças na área econômica. O Ministro Guido Mantega parece ser a bola da vez, sendo inclusive motivo de chacota (graças às previsões de PIB). Ele resiste a mais um desempenho fraco em 2013? Existem, em sua opinião, motivos para ele ser tão questionado?
A. B.: Esquecendo um pouco a figura do ministro e avaliando a postura do governo como um todo, deu-se muita ênfase para ações pontuais e voltadas para consumo, ao mesmo tempo em que deixamos de investir o suficiente para garantir o crescimento futuro, desprezando ações de cunho mais global.
O PIB brasileiro de 2012 será consequência dessas ações que não deram certo nem mesmo no curto prazo, assim como deve ser o desempenho de 2013, em que pese o crescimento maior num base de comparação fraca. Penso que quando o país não consegue crescer por dois anos seguidos, todo o governo deve se questionar onde foi o erro, independente do quadro internacional ruim.
No eBook, vocês também tiveram o cuidado de falar sobre as questões do câmbio. Pensando novamente na inflação, não é de se esperar que o governo possa mirar a valorização do Real para segurar e controlar os preços?
A. B.: Isso pode ser possível em algum momento, caso a inflação dê sinais mais concretos de expansão. Contudo, seria um erro trabalhar com o real valorizado, já que isso traz também malefícios para a economia, principalmente na atração de investimentos externos.
Em economia, os acertos estão em buscar o equilíbrio, com regras estáveis e grande planejamento do futuro. A administração por sustos leva aos desequilíbrios e instabilidade entre os agentes, situação nociva para o bom desempenho da economia. Detalhamos mais essa opinião no material gratuito disponível no eBook (clique para ler).
Álvaro, agradecemos muito essa nova entrevista para o Dinheirama. Temos muita satisfação de iniciarmos o ano de 2013 com você sendo nosso primeiro entrevistado. Por favor, deixe uma mensagem para os leitores que já se acostumaram a contar com seu conhecimento sobre economia e investimentos.
A. B.: Em meu nome e também da ÓRAMA gostaria de agradecer pela entrevista e lembrar aos investidores que está cada vez mais difícil obter bons retornos sem correr riscos em suas aplicações. Assim, incursões solitárias nas diferentes modalidades de aplicação pode levar ao insucesso.
Formas coletivas de aplicação, como em fundos de investimento (clique para conhecer nossos produtos), parecem ser mais adequadas para quem não conhece os meandros do mercado financeiro ou não dispõe de tempo suficiente para se dedicar. Obrigado!