Otávio comenta: “Navarro, eu tenho 35 anos e no ano passado, depois de muito notar sua insistência no tema, decidi começar a investir. Na hora de escolher o investimento, no entanto, vi que a maior parte das ofertas era para produtos conservadores (renda fixa, poupança etc.). Com esses juros baixos e inflação alta, achei por bem optar por um produto mais arrojado e investi em um fundo multimercado. Fiz bem? Obrigado”.
Para vencer a inflação em 2013 e garantir poder de compra, teremos que conhecer e praticar novas formas de investimento. Tenho insistido nesse ponto e a razão é óbvia: juros em patamares historicamente baixos (aplicações conservadoras rendendo menos) e inflação fora do centro da meta significam rentabilidade real cada vez menor.
Tomemos, por exemplo, a caderneta de poupança como uma referência. Seu rendimento foi menor que a inflação oficial (IPCA) de setembro a dezembro do ano passado. Segundo calculou o jornal Valor Econômico, quem investiu R$ 1 mil na poupança em 31 de junho de 2012, fechou o ano com poder de compra equivalente a R$ 996,40.
Hora de selecionar melhor os investimentos e migrar?
Diante deste cenário desafiador, é de se supor que os investidores estejam preocupados e dispostos a conhecer aplicações mais rentáveis. Preocupados, tenho certeza de que estão, mas daí a decidir por uma realocação de seu patrimônio é uma longa estrada.
A decisão de migrar passa por alguns aspectos enraizados em nossa cultura de investimentos e no funcionamento do sistema financeiro como um todo. Cito alguns destes quesitos abaixo:
1. A busca por liquidez imediata
Dizer ao cliente que seu dinheiro precisa ficar “travado” em determinada aplicação por períodos que vão de 30 dias a dois anos não é uma tarefa fácil. O brasileiro é desconfiado e dinheiro trancado em instituições financeiras significa risco de confisco, abuso ou mesmo perigo de simplesmente desaparecer.
Os receios ao investir são válidos e têm razão de existir (basta lembrar de nossa história recente), mas é hora de investir no momento presente. Isso significa parar de pensar em dinheiro com medo de problemas, mas investir de forma inteligente apesar do medo. Ou seja, fazendo um correto e eficiente gerenciamento de risco (diversificando, garantindo uma reserva de emergência, sendo mais arrojado e por ai vai).
2. Investimento com (boa) rentabilidade garantida (sem custos, nem impostos)
A caderneta de poupança não é algo que existe apenas no Brasil, uma aberração, como algumas pessoas gostam de apontar, mas ela tem um forte impacto na cultura de investimentos criada e mantida nos lares brasileiros. Sua facilidade e comodidade são vantagens inexistentes em outras aplicações e isso serviu para criar laços fortes e duradouros.
Além da poupança, investimentos em fundos de renda fixa renderam bastante (dois dígitos) durante muitos anos e sempre foram largamente divulgados e ofertados pelos grandes bancos. E o brasileiro decidiu-se corretamente, afinal de contas não havia sentido arriscar-se por ai se os retornos eram tão bons nos produtos conservadores.
3. Oferta de produtos e concentração bancária
Aqui as opiniões costumam divergir bastante, já que muitos acreditam que a concorrência bancária no Brasil é “feroz”, enquanto outros defendem que há muito “jogo de compadres”. A minha preocupação aqui não vem do fato de termos menos de dez bancos realmente grandes e com a vasta maioria dos correntistas, mas do fato de que a maioria deles nem sempre oferece produtos de investimento adequados ao perfil de seus clientes.
O fato é que por uma série de fatores, tais como ignorância do próprio investidor, necessidade de cumprir metas por parte dos gerentes, imposição dos bancos e características dos produtos (taxas altas, aportes altos para investir etc.), nem sempre temos acesso ao produto adequado ao nosso perfil. O resultado costuma ser um investimento mal feito, muitas vezes apressado e sem muita análise.
4. Baixa renda e, consequentemente, baixa capacidade de poupança
Não tem jeito, quando a gente ganha pouco fica difícil destinar alguma coisa para os investimentos. Apesar da discussão em torno do “ganha pouco” ser subjetiva e interessante (ora, é sempre possível economizar e investir, ainda que bem pouco), a realidade da maioria dos brasileiros é de renda crescente, mas com média ainda muito baixa.
Dessa forma, separar uma parcela da renda para investir não se torna uma prioridade. Para complicar ainda mais, quem consegue fazer esse sacrifício dificilmente encontra produtos de investimento interessantes para suas pequenas quantias poupadas – a decisão quase sempre é colocar na caderneta de poupança.
Falta educação financeira?
Eu diria que sim, a educação financeira é um ponto crucial para uniformizar o acesso à informação e aos detalhes relacionados à melhores e mais interessantes modalidades de investimento. No entanto, ela não é a única solução, ou aquela que fará a maior diferença.
Lidar melhor com as finanças não é uma ação que possui métodos e passos que todos podem reproduzir. Não há um manual, um guia, mas sim experiências compartilhadas e boas práticas.
Arrisco-me a dizer que a formação de um investidor mais consciente é um processo que contempla:
- Cidadania. O relacionamento entre familiares e o bom senso para com os outros e a formação de patrimônio dão o tom nos lares onde há equilíbrio e prioridades bem definidas. Não custa lembrar que aprendemos muito mais pelo exemplo que pelas palavras. Ou seja, precisamos melhorar muito a nossa relação com as pessoas, sociedade e governos;
- Boa formação. É preciso saber se comunicar, seja para que uma boa negociação seja conduzida, ou para que um contrato possa ser analisado com mais cautela e cuidado. Algumas contas simples também precisarão ser feitas para o orçamento e na hora de decidir onde colocar o dinheiro. Ou seja, precisamos ter educação de qualidade, investir em aprendizado contínuo e de mais leitura;
- Disciplina. Eu sempre abordo a zona de conforto e nossa acomodação quando falo de finanças, então serei mais uma vez repetitivo. Não se prenda na falsa sensação de que a força de vontade o levará mais longe e que a iniciativa abrirá portas e apresentará melhores oportunidades. Tais comportamentos são apenas fugas e artimanhas usadas para justificar o que deveríamos realmente fazer: insistir. O esforço continuado, em doses pequenas (mas frequentes), é o que nos leva ao que desejamos.
Você é o que interessa!
Trabalhar nossas qualidades pessoais tem um peso muito grande nas decisões financeiras que tomamos, embora isso não pareça lógico. O propósito deste texto foi colocar você, caro leitor e investidor, diante da necessidade de rever seus conceitos sobre investimento, mas primeiro olhando para o que você considera saber sobre o tema.
Em outras palavras, esqueça, pelo menos no começo, a tendência de buscar informações sobre o “melhor investimento” ou onde conseguirá “mais rentabilidade”. Comece analisando suas decisões de investimento tomadas até hoje, observando seu perfil (arrisca, prefere terceirizar seus investimentos, gosta de números e contas etc.) e só então passe para as alternativas.
A partir daí fará sentido analisar opções como Tesouro Direto, fundos multimercado, Letras de Crédito Imobiliário (LCI), Debêntures, fundos de ações, investimento direto em ações via home broker, previdência privada e mais, muitas das quais já tratamos em diversas ocasiões aqui mesmo no blog.
O artigo talvez motive-o a migrar parte de seus investimentos ou a simplesmente começar a investir. Faça isso depois de definir objetivos e relacionar seu estilo de vida com as aplicações disponíveis, mas a partir de agora considerando que os juros caíram e a inflação anda assustando. Boa sorte e até a próxima.
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