A companhia de alimentos BRF (BRFS3), uma das maiores produtoras e exportadoras de carnes de frango e suínos, prevê elevar para 40% as compras diretas de grãos junto a agricultores, do total de aquisições dessas matérias-primas, à medida que busca ter maior controle de fornecedores enquanto pretende eliminar também o desmatamento legal da cadeia produtiva até o final de 2025.
A BRF, uma das maiores compradoras de milho e soja do Brasil para a produção de ração aos seus integrados produtores de aves e suínos, iniciou no ano passado este movimento para ampliar a aquisição de grãos sem intermediação de agentes como tradings, e já passou da metade do caminho em direção à sua meta de dois anos.
As compras de grãos feitas diretamente de produtores saltaram de apenas 17% em 2022 para 32% do total de aquisições das matérias-primas em 2023, com a empresa também buscando melhorar as margens, uma vez que os negócios diretos são “mais econômicos”. Em anos recentes, quando os preços da soja e do milho dispararam, a companhia viu seus resultados caírem.
“Desse nosso desafio de dobrar a originação por meio de compras diretas (em dois anos, até 2024), já trouxemos mais de 50% em 2023”, disse o diretor de Operações e Compras de Commodities da BRF, Gilson Ross, em entrevista à Reuters, nesta sexta-feira, em referência ao avanço da companhia em relação à meta.
A BRF ainda anunciou que terminou mapeamento de emissões do escopo 3 (aquelas feitas por fornecedores da companhia), no qual estão inseridas as compras de grãos, e os resultados confirmaram que neste item estão grande parte das emissões.
Para ampliar as compras diretas, a companhia adotou ações como o deslocamento de funcionários do segmento corporativo para unidades espalhadas pelo interior do país, reforçando equipes de compras de grãos em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e nos Estados do Sul do Brasil.
“Aumentamos o número de pessoas com o quadro para estar mais em contato com os produtores”, disse Ross, destacando que os times também estão se beneficiando das tecnologias contratadas pela empresa para monitoramento dos compradores.
A BRF já investiu 10 milhões de reais na implementação de novas tecnologias para avançar na rastreabilidade dos grãos.
Nesta sexta-feira, em entrevista à Reuters falando diretamente de Dubai, onde acontece a COP 28, a diretora de Reputação e Sustentabilidade da BRF, Raquel Ogando, revelou uma atualização de metas, afirmando que a companhia projeta ter rastreabilidade de 100% dos fornecedores de grãos, diretos e indiretos, até 2025.
O monitoramento de todos os produtores considera não apenas questões ambientais, mas também sociais. A rastreabilidade dos fornecedores diretos de grãos nos biomas da Amazônia e do Cerrado já é de 100% pela BRF, enquanto em 2023 a empresa avançou de 45% para 75% os indiretos.
A executiva disse ainda que a BRF definiu o fim de 2025 como data para encerrar compras de grãos de áreas desmatadas mesmo que legalmente do Cerrado brasileiro.
Pela legislação brasileira, o agricultor tem direito de desflorestar parte das áreas de sua propriedade, dentro de alguns limites que variam de acordo com o bioma.
Mas a diretora destacou que a BRF não trabalhará com grãos de áreas desmatadas legalmente de qualquer bioma a partir de 2026, e lembrou que já não compra grãos de áreas desflorestadas após 2008 do bioma amazônico, seguindo parâmetros da Moratória da Soja, pacto elaborado pela indústria processadora e tradings.
“Definimos o ano de 2025 como data de corte, alinhado com os princípios do SBTi (do inglês, metas baseadas na ciência)”, disse Ogando.
Embora a companhia tenha definido metas contra desmatamento, ainda que legal, em prol da sustentabilidade e das exigências de consumidores globais, a diretora acredita que os produtores têm ampliado produtividades e são capazes de atender aos novos desafios.
“A nossa estratégia tem sido a de inclusão, caminho natural alinhado com o que temos visto das melhorias dos próprios produtores, tem grandes avanços nas produtividades das áreas”, disse ela.
Nos escopos 1 e 2, a BRF anunciou que reduziu em 26% no ano passado as emissões absolutas de gases de efeito estufa em relação ao ano-base 2019, com estratégia de contratar energia renovável, como solar e eólica.
Safra 2023/24
O diretor Ross disse ainda que, em 2024, o plano é colocar mais esforços nos campos e que a BRF, considerando novas metas, está estudando como ajudar o produtor a restaurar áreas degradadas.
Ele destacou que o produtor que vende grãos para a BRF também tem vantagens de ter um comprador firme, argumento que deve ser utilizado para engajar fornecedores nas metas da companhia.
Só no ano passado, a empresa investiu 156,7 milhões de reais em ações socioambientais voltadas a transição energética, tecnologias de automação na cadeia produtiva e bem-estar animal, entre outros setores.
Questionado sobre a seca que atingiu as lavouras de soja no centro-norte do país no início da safra, que levou consultorias privadas a reduzirem suas projeções, o diretor de Operações e Compras de Commodities da BRF disse que algumas estimativas são mais “especulativas do que a realidade, principalmente considerando os últimos seis dias, quando as chuvas se espalharam pelas principais regiões do Centro-Oeste e Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia)”.
“As previsões são boas para os próximos meses, claro que previsão climática quanto mais longa é menos assertiva, mas acho que o cenário vai melhorar bastante, já está melhorando”, declarou ao ser questionado.