O Carrefour (CRFB3) anunciou na véspera que não vai adquirir produtos da Pepsico em quatro países europeus por causa de altas excessivas de preços, mas a tática de negociação pode ter pouco impacto, dado o tamanho de algumas marcas globais, segundo especialistas do setor.
A estratégia de retirar produtos das prateleiras é uma tática que os varejistas empregam há anos na disputa de preços com os fornecedores, mas a crise do custo de vida provocou mais disputas, como uma entre a varejista alemã Edeka e a norte-americana Procter & Gamble no ano passado.
Os supermercados, que estão operando com margens muito pequenas, dizem que estão tentando manter seus preços em sintonia com os dos rivais e, ao mesmo tempo, evitar que os consumidores se deparem com grandes aumentos de preços de marcas populares.
Enquanto isso, as principais marcas de alimentos e de consumo aumentaram os preços nos últimos anos alegando necessidade de cobrirem custos mais altos, o que também aumentou suas margens de lucro.
A decisão do Carrefour ocorreu pouco mais de uma semana antes de os supermercados franceses fixarem os preços com os fornecedores para o ano todo.
A briga reacendeu o debate sobre se os supermercadistas podem realmente se dar ao luxo de abandonarem produtos populares sem perder vendas para rivais.
“No curto prazo, isso causa um pequeno impacto na lucratividade tanto do varejista (perda de vendas) quanto da marca, mas, no final, isso é principalmente ruído”, disse Bruno Monteyne, analista da Bernstein.
“Os varejistas acreditam que isso melhora sua imagem e sua marca junto aos consumidores, mas duvido que haja qualquer evidência que comprove isso.”
No passado, os varejistas abandonaram marcas apenas para trazê-las de volta semanas ou meses depois e aceitarem aumentos de preços.
A Procter & Gamble, fabricante do detergente Tide, disse à Reuters em novembro que os compradores alemães ainda podem encontrar suas marcas nas prateleiras da Edeka.
O grupo de supermercados britânico Tesco aumentou os preços de 11 produtos Colgate em março passado em uma média de 28%, de acordo com a revista do setor The Grocer, para evitar a repetição de uma disputa de preços de 2022 com a companhia.
Naquele ano, a Tesco também brigou com a Kraft Heinz por algumas semanas. A Tesco não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
“Na maioria das vezes, isso (a retirada de produtos) é temporário e não causa um impacto significativo nas vendas do grupo de empresas geograficamente bem diversificadas”, disse Tineke Frikkee, gerente de portfólio da Waverton Investment Management, que investe na Unilever e na Reckitt Benckiser.
“O único varejista em que isso pode ser significativo seria se a disputa fosse com o Walmart, pois, sendo a maior rede de varejo dos EUA, isso afetaria as vendas. Para a Pepsi, é improvável que ter ser produtos fora do Carrefour na França prejudique os lucros do grupo e, para a Heinz, não detectamos a disputa com a Tesco em suas finanças.”
A Campbell Soup alertou em 2017 que estava tendo problemas para chegar a um acordo sobre uma estratégia promocional com o Walmart e suas vendas de sopa enlatada caíram 9% no trimestre encerrado em outubro de 2017.
Contribuição da França para as marcas globais
A França representou apenas 1% das vendas da Pepsico em 2022, segundo os dados da Nielsen, cerca de 4% das vendas da Nestlé e aproximadamente 4% das da Unilever.
Na quinta-feira, o Carrefour disse que estava informando aos clientes de quatro países europeus que não venderá mais produtos como Pepsi, batatas fritas Lay’s e 7up porque eles se tornaram muito caros.
As margens de lucro das empresas de bens de consumo, como Nestlé e Unilever, têm oscilado entre 16% e 18% nos últimos anos, enquanto as margens de muitos supermercados não passam de 5%.
No ano passado, o governo francês, juntamente com vários varejistas, inclusive o Carrefour, denunciou empresas como Nestlé, Lindt, Henkel e Unilever por aumentos acentuados de preços antes das negociações contratuais.
Nesta sexta-feira, o presidente da maior rede de supermercados da França, E. Leclerc, também pediu que todas as grandes empresas de bens de consumo reduzam seus preços.
A Pepsico não respondeu a um pedido de comentário. Henkel e Unilever não se manifestaram.