Foi aprovado nesta quinta-feira (6) pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) o nome de Eduardo Ricardo Gradilone Neto para o cargo de embaixador do Brasil no Irã.
O parecer sobre a MSF 43/2023, elaborado pelo senador Nelsinho Trad (PSD-MS), recebeu 11 votos favoráveis e nenhum contrário. A condução de Gradilone seguiu para análise do Plenário.
Por considerar um posto sensível da diplomacia brasileira, o senador Esperidião Amin (PP-SC) sugeriu que a representação diplomática brasileira em Teerã passe a enviar um relatório bimestral das atividades à CRE.
O parlamentar desejou sucesso a Gradilone, caso seja confirmado para a vaga, e defendeu uma atuação conjunta com o Parlamento brasileiro para a desobstrução das relações entre os dois países.
— Isso ocorrerá se usarmos de inteligência. O Irã tem sido um parceiro leal e natural do Brasil e precisamos nos munir de elementos que nos permitam não tomarmos partido em questões que não são nossas. Temos de respeitar seus costumes e torcer, contribuir, mas não interferir. É um posto delicado da nossa diplomacia — ressaltou.
Complexidade
Gradilone considerou complexa a estrutura de poder no Irã, mas disse que procurará ajudar a manter um relacionamento honesto entre as duas nações, bem como estabelecer uma pauta positiva, caso assuma a embaixada. Ele concordou com o posicionamento de Amin e avaliou como fundamental o envolvimento do Parlamento brasileiro nas discussões, em busca de uma pauta positiva.
O indicado adiantou que terá como meta a reativação de um sistema de consultas políticas e econômicas que existia antes da pandemia de covid-19, “já que o Irã segue uma linha de primeira ordem para o Brasil”.
Direitos humanos
O senador Sérgio Moro (União –PR) apontou problemas do Irã relativos a direitos humanos, particularmente os das mulheres, a exemplo da obrigatoriedade do uso do véu. O parlamentar comentou que o antagonismo verificado historicamente entre Estados Unidos e Irã culminou em “aborrecimentos” que teriam motivado um esfriamento entre as relações presidenciais americana e brasileira. Moro avaliou que o governo brasileiro deve buscar formas de conciliação, sem intervenções conflitantes.
— O Brasil não tem de assumir um posto de polícia do mundo, mas existem situações que requerem envolvimento. Não no sentido de condenar um país ou “satanizá-lo”, mas de se assumir uma posição.
Já o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) lembrou os conflitos religiosos que afetam o território iraniano e questionou como Gradilone pretende agir pragmaticamente para manter as parcerias comerciais daquele país com o Brasil e, ao mesmo tempo, deixar claro que o Brasil não pretende se envolver no conflito entre Estados Unidos e Irã.
Gradilone respondeu ser necessário buscar um melhor entendimento sobre as peculiaridades religiosas e culturais do Irã, mas observou que o Brasil já tem evitado intervir em questões sensíveis.
— Não é porque temos dois, três, cinco assuntos problemáticos que os outros 95 não possam ser tocados. Vamos procurar tocá-los quando possível. Temos 95% [de chances] para tocarmos, sem nenhum problema — destacou.
Currículo
A indicação de ministros de primeira classe da carreira do Ministério das Relações Exteriores se insere no contexto da renovação periódica das chefias das missões diplomáticas brasileiras, prevista na Lei 11.440, de 2006. Eduardo Ricardo Gradilone Neto nasceu em 1951 na cidade de São Paulo. Em 1974, graduou-se em jornalismo, pela Fundação Armando Álvares Penteado, e em direito, pela Universidade de São Paulo (UsP). Quatro anos depois, o indicado finalizou o Curso de Preparação à Carreira de Diplomata do Instituto Rio Branco (IRBr).
Entre 2007 e 2010, dirigiu o Departamento das Comunidades Brasileiras no Exterior. Ele também atuou como embaixador em Wellington (Nova Zelândia), de 2012 a 2016, e em Ancara (Turquia), de 2016 a 2020. Atualmente, aos 72 anos, o diplomata representa o Brasil na embaixada em Bratislava (Eslováquia).
Irã
A República Islâmica do Irã está localizada no Oriente Médio, entre o Iraque e o Paquistão. As relações com o Brasil tiveram início em 1903, sendo assim, em 2023, os dois países celebram 120 anos de proximidade diplomática ininterrupta. A embaixada iraniana foi uma das primeiras instaladas em Brasília, em 1960, ano de fundação da capital federal.
Os principais parceiros comerciais do Irã são aqueles que possuem recursos iranianos em bancos e que importam o petróleo do país, como a China e a Índia. Apesar disso, em 2022, o comércio bilateral entre o Brasil e o país do Oriente Médio registrou o maior valor da série histórica.