A mineradora Vale avalia que a demanda por aço de sua principal cliente, a China, está declinante, mas não tanto quanto alguns indicadores mostram, e considera que a segunda maior economia do mundo é resiliente, apesar de sofrer com as incertezas sobre estímulos que garantam as metas de crescimento.
Em entrevista à Reuters, o vice-presidente Executivo de Soluções de Minério de Ferro, Marcello Spinelli, considera que o maior consumidor global da commodity, matéria-prima do aço, tem uma economia firme, o que deixa a companhia “cautelosamente otimista” com a China.
O vice-presidente pontuou que há uma desconfiança muito grande de analistas em relação ao mercado de construção civil na China, após problemas de liquidez de desenvolvedores imobiliários.
O que muitos dos analistas não enxergam nos números, segundo Spinelli, é que existem não desenvolvedores que estão produzindo casas em patamares bem elevados, o que “acaba compensando, não 100%, mas compensando para um declínio mais moderado”.
“Hoje a grande divergência que os mineradores enxergam é que nos números microeconômicos aparecem que os estoques de minério estão baixos, estoques de aço estão baixos. Existe uma demanda (por aço) acontecendo, mas quando se concilia com os números de properties (do setor de construção) há essa divergência”, comentou Spinelli.
“A gente enxerga que há demanda, ela está declinante, mas não tanto como alguns indicadores isolados mostram para alguns analistas. Esse é o primeiro ponto”, acrescentou ele, destacando que em segundo lugar é preciso admitir que há uma “questão não declarada pela China ainda sobre seu apetite de estimular a economia”.
“Isso não está claro ainda, se eles estão dando pílulas homeopáticas”, exemplificou.
Os estoques de minério de ferro nos portos da China estão nos menores níveis em quase três anos, somando cerca de 118 milhões de toneladas, segundo dados da consultoria SteelHome, enquanto os preços estão ainda se segurando acima de 110 dólares por tonelada, mas distante da máxima do ano de cerca de 130 dólares e abaixo das máximas de 150 dólares/tonelada de 2022.
No curto prazo pós-pandemia, o mercado talvez tenha esperado que a China passasse por um boom econômico, o que não aconteceu, pontuou o executivo, destacando que a economia do país asiático pode estar caminhando mais estável do que o mercado esperava, mas que está ainda firme.
“Há muita volatilidade porque ninguém sabe o que o governo central vai tomar de decisão (sobre estímulos). A gente tem que esperar um pouco, mas a China está lá, viva, resiliente, economicamente resiliente e segue firme”, declarou.
Embora a Vale esteja diversificando, com apostas no setor de metais básicos e produtos de minério de ferro com maior valor agregado, a companhia ainda é fortemente dependente de vendas para os chineses, que levaram 190,107 milhões de toneladas de minério de ferro e de pelotas da empresa em 2022, ou cerca de 63% das vendas totais desses produtos da gigante mineradora, segundo dados da companhia.
O executivo citou também que a alta dos preços da commodity nas últimas semanas se deu porque houve sinais positivos com redução de taxas de juros e negociação de dívidas de cidades menores com o governo central da China.
“Foram duas ações muito boas, mas precisa de mais”, frisou Spinelli.
“Otimistas cuidadosos, é o que somos. Existe uma estabilização da economia em um patamar muito alto e com algum ajuste sim, vai declinar (o crescimento) isso moderadamente nos próximos cinco, dez anos, mas de maneira que já está prevista”, disse Spinelli.