Em entrevista ao Dinheirama.com, Frederico Rizzo, CEO da plataforma de investimento coletivo Broota, fala sobre sua trajetória e analisa o mercado de equity crowdfunding no Brasil.
Desde que o Broota lançou, há um ano, a primeira Oferta Pública via equity crowdfunding no País, o mercado amadureceu bastante. Treze startups captaram através da plataforma e, com os avanços na legislação esperados para 2016, o processo de financiamento coletivo será ainda mais democratizado. Confira o bate-papo:
Frederico, conte um pouco de sua trajetória, como tomou suas decisões ao longo da carreira/vida e como o empreendedorismo surgiu em sua trajetória.
Frederico Rizzo: Quando jovem, estive muito envolvido com o esporte. Fui velejador, bi-campeão brasileiro e vice-campeão mundial de Optimist – que é a principal porta de entrada para o mundo da vela.
A experiência bem-sucedida no esporte e, principalmente na vela, me ensinou a correr riscos e sonhar grande: saí de Porto Alegre para vir estudar em São Paulo, na Fundação Getúlio Vargas, onde tive a sorte de me aprofundar, por quatro anos, em temas ligados a empreendedorismo, algo muito pouco falado naquela época (minha classe inteira recebeu um curso gratuito oferecido pela Amana-Key de Gestão Empreendedora).
Foi assim que descobri uma nova forma de canalizar minha energia para atividades que me desafiavam e acabei fundando, com alguns colegas de classe ainda durante a faculdade, uma ONG para trabalhar com esporte (vela, logicamente) e educação, numa região de 100 mil habitantes que viviam em condições de alta vulnerabilidade na zona sul de São Paulo.
Depois de uma experiência de 5 anos nesta ONG, fui trabalhar na Mãe Terra, empresa de produtos orgânicos investida por um fundo de private equity, mas com um propósito sócio-ambiental bastante claro, o que me motivava enormemente. Depois de quatro anos lá, decidi que estava na hora de realizar um sonho antigo de fazer um MBA, então fui para Duke University onde me especializei em finanças e empreendedorismo.
Como nasceu a ideia de criar a Broota? Conte-nos um pouco sobre esta sua empresa.
F. R.: Enquanto empreendedor social passei 5 anos captando recursos e mobilizando pessoas para os projetos sociais que desenvolvíamos na comunidade do Jd. Gaivotas, no Grajaú. Quando fui para a iniciativa privada, na Mãe Terra, percebi que muita gente demonstrava um interesse tão grande ou maior com o propósito da empresa do que com aquele que eu havia vivenciado na ONG.
Ao mesmo tempo, o desafio de empreender – independente se um projeto social ou um negócio potencialmente muito lucrativo – era muito parecido; por isso achei que precisava haver uma forma de engajar pessoas em prol de iniciativas empreendedoras através da internet.
Era janeiro de 2012 e o crowdfunding de recompensas já era uma realidade no Brasil. Mas eu achava que os empreendedores precisavam de mais do que capital financeiro, por isso imaginei um modelo em que uma espécie de crowdsourcing também estivesse acoplado à plataforma – ou seja, pessoas ajudariam não apenas com grana, mas capital humano/intelectual ao longo do processo de criação da empresa.
Na época, eu não pensava em equity crowdfunding, pois essa atividade é super regulada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) por envolver mercado de capitais. Todo mundo com quem eu falava dizia que isso era impossível de fazer no Brasil.
Quando fui para os EUA fazer meu MBA, entretanto, vi o movimento iniciando por lá e continuei atento ao desenvolvimento do mercado. Foi aí que descobri que a CVM estava mais aberta do que muitos imaginavam e que, na verdade, havia uma brecha na legislação local para a prática do equity crowdfunding.
Apressei então meu curso, me formei 6 meses antes do previsto e vim pro Brasil montar a operação com a ajuda de mentores e do escritório de advocacia Machado Meyer. Assim, em junho de 2014 conseguimos aprovação para fazer a primeira oferta, que não por acaso foi do próprio Broota.
Levantamos R$ 200 mil com 30 investidores em 30 dias, e assim começou nossa jornada. O Broota se propõe a conectar os principais players do ecossistema empreendedor brasileiro independente de origem e rede de contatos.
É uma espécie de “rede social” para empreendedores e investidores, que permite que o empreendedor faça conexões estratégicas e capte recursos para seu negócio – que é um dos seus maiores desafios.
Conte um pouco sobre equity crowfunding e as vantagens desse modelo de financiamento.
F. R.: O investimento coletivo, ou equity crowdfunding, é a Oferta pública de valores mobiliários que uma empresa disponibiliza para um grupo de investidores através da internet.
Ao contrário do crowdfunding tradicional, em que a pessoa recebe brindes ou mesmo o produto como recompensa pelo capital aportado, no crowdequity o investidor recebe, como contrapartida, uma participação acionária ou um título de dívida, que pode ser conversível em ações da empresa apoiada. Neste sentido, o investidor pode se tornar sócio de um negócio inovador investindo a partir de R$ 1000.
Para o empreendedor, as principais vantagens são duas: em primeiro lugar, a velocidade na captação, já que ele consegue apresentar o seu negócio para milhares de pessoas ao mesmo tempo; e, em segundo lugar, o acesso a uma rede ampla e diversificada de pessoas que se tornam embaixadores da empresa e podem ser mobilizados para ajudar o negócio a prosperar.
Para o investidor, a principal vantagem é conseguir acessar oportunidades que até então não estavam ao seu alcance, sem ter que aplicar dezenas ou centenas de milhares de reais por negócio – o que tornava a atividade de investidor-anjo algo restrito a pessoas muito ricas. Com o equity crowdfunding, investidores conseguem diversificar quantias menores de capital em vários projetos, aumentando assim suas chances de retorno.
Como o equity crowfunding tem aproximado investidores de startups?
F. R.: O equity crowdfunding democratiza o acesso a capital de risco: qualquer um pode investir a partir de R$ 1mil. O investidor tem acesso a um deal flow muito maior e a possibilidade de contatar diretamente empreendedores que buscam capital. A disponibilização dos dados da oferta virtualmente facilita a diligência por parte do investidor.
Com os Sindicatos, novo produto do Broota no qual investidores apoiam um investidor líder em troca de acesso ao seu fluxo de negócios, há também uma interação da nossa comunidade de investidores entre si, o que gera networking e educação para ambas as partes.
Após praticamente um ano de operação, qual balanço você faz? E quais expectativas para o futuro?
F. R.: Em um ano de operação, o Broota captou para 13 empresas um total de R$ 3.850.000. Nossa meta esse ano era captar para 10 empresas, portanto, estamos bem satisfeitos com o resultado.
Além disso, o número de empresas que pretendem captar via plataforma tem aumentado bastante, assim como o valor médio de cada captação. Superamos nossos principais desafios legais e, com a nova regulamentação que a CVM pretende lançar no primeiro semestre de 2016, acreditamos que o processo será ainda mais fácil para o empreendedor.
Para o próximo ano, pretendemos captar R$ 8 mi para pelo menos 20 negócios, com uma receita esperada de R$ 500 mil.
Como você avalia o mercado de equity crowdfunding no Brasil?
F. R.: O equity crowdfunding é um mercado mundial que cresce em um ritmo acelerado, tendo crescido 182% no ano passado (dados do Crowdfunding Industry Report). Só na América Latina, o crowdfunding teve um crescimento de 167% em 2014.
No Brasil, o surgimento de novos investidores-anjos e de programas de incentivo ao empreendedorismo evidencia o crescimento do setor. Temos bastante confiança no futuro da modalidade no país. Da parte legal, muito já foi feito para possibilitar os mini-IPOs virtuais, porém muito ainda pode ser feito para que o processo tenha menos fricção.
Quais foram os principais desafios que você enfrentou quando decidiu empreender e começar sua própria empresa? Como os superou?
F. R.: O primeiro desafio foi a coragem de se jogar de cabeça num mercado inexistente e cheio de complexidades. Havia muito advogado especialista em venture capital e startups afirmando que o equity crowdfunding não era possível no país. Mas, eu soube encontrar as pessoas certas que me ajudaram a desenvolver um modelo inicial que, com o tempo, foi sendo aprimorado.
Outro enorme desafio foi montar uma equipe de alta performance. Comecei sozinho o Broota e a grande maioria das pessoas que entende de startup sabe que é muito difícil criar uma empresa sem co-fundadores.
Então, eu fui aos poucos encontrando pessoas com interesse no tema e também buscando pró-ativamente gente com excelente qualificação para o trabalho. Fui dando corda para essas pessoas, experimentando trabalhar junto, validando empatia e as reais motivações para trabalhar no Broota. Com o tempo, consegui montar uma equipe que já está há um ano unida e cada vez mais entrosada.
Quais benefícios e vantagens você enxerga no empreendedorismo como uma opção de vida?
F. R.: Empreender é muito difícil. Como diz um mentor meu, precisa ter “casca grossa”. Você não tem tempo para quase nada, é difícil desconectar do trabalho e, pra piorar, a estatística está sempre contra você. Mesmo assim, tem muito louco que gosta de viver com esse frio na barriga e poder acordar todo dia motivado e com autonomia para perseguir seus sonhos.
Eu acho que empreendedorismo hoje pode ser sim uma opção de “carreira”. As pessoas começam a perceber que falhar faz parte do processo e só traz mais bagagem para sua próxima tentativa.