O ex-presidente-executivo da Americanas (AMER3) renunciou ao cargo duas semanas após seu início porque não esperava liderar uma empresa insolvente, disse ele nesta terça-feira à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara dos Deputados que investiga a fraude contábil bilionária da varejista.
Sérgio Rial, que testemunhou perante à CPI, renunciou em 11 de janeiro, mesmo dia em que a Americanas revelou inconsistências contábeis que mais tarde foram descobertas como fraude. A varejista entrou com pedido de recuperação judicial posteriormente no mesmo mês.
“Renuncio, juntamente com o diretor financeiro, porque não foi esse o projeto que eu comprei. Comprei um desafio, não uma empresa insolvente”, disse ele aos deputados, afirmando que não esperava que a dívida da Americanas excedesse seus ativos.
Rial, antigo chefe-executivo e presidente do Conselho de Administração do Santander Brasil, disse não ter visto nenhuma evidência de que os acionistas de referência da Americanas — o trio bilionário fundador da 3G Capital — tenham participado da fraude.
“O que posso dizer: não vi nenhum indício, nem antes, nem durante e nem depois em relação a isso”, disse ele.
Rial testemunhou em março perante a senadores dizendo que a gestão anterior da Americanas havia criado dificuldades na divulgação de informações sobre a situação da empresa e o processo de sucessão.
Apresentação
Rial também citou uma apresentação, feita no dia 27 de dezembro, do ex-presidente, Miguel Gutierrez – com 20 anos à frente da Americanas – direcionada ao presidente do Conselho e que trouxe dois aspectos.
“O primeiro era o de que a fusão da B2W e Americanas, aconteceu societariamente, mas não ao nível de gestão. Existiam ainda tecnicamente duas empresas, apesar dos avanços em logística”, aponta Rial.
Ele ressalta que, quando você passa a ter um CNPJ, todo o seu desenho tributário muda, como o modelo físico e o digital.
“Então houve uma apresentação com os desafios, mas muito mais com as oportunidades que essa simplificação traria. E do outro lado, basicamente se explica que, dado a uma relação conflituosa histórica com fornecedores da empresa, acabaram tendo que, de certo errado, trazer bancos para financiar parte da sua cadeia de fornecedores. E na apresentação estava escrito ‘Fornecedores/Bancos’. E termina a apresentação”, explica.
O diretor financeiro que entra comigo no dia 2, não estava presente comigo no dia 27, e eu digo a um dos diretores que o senhor André Couvre, tenha um tutorial dessa apresentação.
A partir daí, Rial passa a narrar conversas que teve com dois diretores da Americanas, que não tiveram o nome revelado:
Eu começo agora em 2023, assino meu termo de posse, em 2 de janeiro, e a primeira pergunta que eu faço é:
– “Como foi o Natal?”
A sinalização foi ruim, de que o quarto trimestre não foi aquilo que se havia esperado. Então, nas primeiras horas, um dos diretores vira e diz, enquanto me ambientava na posição:
– Eu acho, Rial, que você não entendeu completamente a apresentação do dia 27. Eu preciso te explicar
Isso me remeteu a alguma coisa na esfera tributária. Não sou especialista, muito menos no mundo digital e disse:
– Perfeito, mas não esquece de sentar com o novo diretor-financeiro e explicar detalhadamente o que foi apresentado
Na terça, dia 3, eu faço uma grande conversa com a organização, com 3 mil pessoas, onde eu lanço o nosso plano de crescimento e o desafio intelectual da gestão e as buscas pela rentabilidade. Enfim, o dia-a-dia de uma empresa que quer crescer.
No mesmo dia 3, ainda me falaram:
– Temos que falar sobre aquele tema do dia 27.
Então, no dia 4, quarta-feira, dois diretores vêm para mim e, nessa manhã, eu coloco os dois na mesma sala e falo:
– Aproveitem para me explicar exatamente o que eu não entendi. Agora é o momento”.
Então percebi que há um desconforto muito grande em explicar e começo a ajudar e digo:
– Olha, na parte tributária entendi isso, isso e isso. E na parte financeira, é a dívida bancária. Não precisamos perder muito tempo nessa discussão.
– Não, não é.
– Não é o quê?
– É dívida bancária, mas não está reportada como dívida bancária.
Ou seja, o Sérgio Rial não descobriu nada. O Sérgio Rial recebeu uma informação, no dia 4, de que o número que eu tinha visto no dia 27 de dezembro, de R$ 15,9 bilhões, era dívida bancária não reportada como dívida.
(Com Agência Câmara)