O Ibovespa (IBOV) caiu nesta quarta-feira, pressionado pelo tombo das ações da Vale (VALE3) e por preocupações persistentes com os potenciais desdobramentos do conflito entre Israel e o Hamas, em meio a um clima já tenso diante da possibilidade de juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos.
A queda só não foi maior por causa da performance das ações da Petrobras, que renovaram máximas históricas, acompanhando a alta do petróleo no exterior.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa fechou em queda de 1,6%, a 114.059,64 pontos. Na máxima do dia, chegou a 115.907,04 pontos. Na mínima, a 113.952,11 pontos.
O volume financeiro somou 49,2 bilhões de reais, com os negócios também marcados pelos vencimentos de opções sobre o Ibovespa e do índice futuro.
De acordo com o analista Pedro Canto, da CM Capital, a tensão no Oriente Médio é um foco de grande preocupação e amplifica o cenário negativo que já vinha pressionando a bolsa brasileira, principalmente os sinais de resiliência da economia dos EUA e seus potenciais reflexos nas ações do Federal Reserve.
Ele explicou que uma das preocupações com a eventual escalada da guerra entre Israel e o Hamas é a possibilidade de que outros países se envolvam no conflito e isso, eventualmente, resulte em novas altas dos preços do petróleo, o que adicionaria ainda mais pressão à inflação no mundo e poderia exigir mais aperto monetário nos EUA.
E se os juros norte-americanos sobem, acrescentou Canto, há menos espaço para reduzir a taxa no Brasil, que também tem seus problemas, principalmente no campo fiscal.
Nesta quarta-feira, o presidente do Banco Central brasileiro, Roberto Campos Neto, reiterou a mensagem mais recente da autoridade monetária, de que o corte de 0,50 ponto percentual na Selic, adotado nas últimas duas decisões, é o ritmo apropriado. A taxa está atualmente em 12,75% ao ano.
Ele ainda esclareceu que em nenhum momento, em sua viagem recente ao Marrocos, afirmou que havia uma probabilidade maior de a autarquia desacelerar o ritmo de cortes da taxa básica de juros para 0,25 ponto do que de acelerar o ritmo para 0,75 ponto, classificando como “ruído” uma interpretação dada à questão.
Em Wall Street, o S&P 500, uma das referências do mercado acionário norte-americano, fechou em queda de 1,34%, tendo no radar o conflito no Oriente Médio, mas também resultados corporativos, conforme agentes financeiros buscam nos balanços sinais sobre a saúde da maior economia do mundo.
No mercado de Treasuries, o rendimento do título de 10 anos marcava 4,9106% no final da tarde, de 4,847% na véspera. Na máxima, mais cedo, esse percentual alcançou 4,928%.
Destaques
Vale (VALE3) caiu 3,67%, a 65,36 reais, em dia de queda dos futuros do minério de ferro na China. A companhia também divulgou na véspera queda na produção de minério de ferro no terceiro trimestre, mas alta nas vendas.
Ainda no radar, a mineradora australiana Rio Tinto afirmou que planeja aumentar a produção em 16% em sua mais nova mina de minério de ferro na Austrália Ocidental.
Petrobras (PETR4) avançou 2,26%, a 38,52 reais, apoiada em nova alta dos preços do petróleo no exterior, com o barril de Brent subindo 1,61%, refletindo receios com a oferta da commodity em meio à tensão no Oriente Médio.
Itaú Unibanco (ITUB4) cedeu 2,09%, a 26,75 reais 2,27%, a 26,70 reais, e Bradesco (BBDC4) perdeu 0,90%, a 14,36 reais 1,10%, a 14,33 reais, com agentes financeiros acompanhando potenciais medidas do governo com reflexos no setor.
MRV (MRVE3) desabou 10,08%, a 8,30 real, com analistas destacando negativamente o consumo de caixa da companhia no terceiro trimestre, pressionado particularmente pelas operações norte-americanas que registraram queima de 443 milhões de reais.
As vendas no segmento incorporação, que contempla as marcas MRV e Sensia, subiram 54,5% ano a ano, enquanto o consumo de caixa ajustado somou quase 44 milhões de reais.
GOL (GOLL4) caiu 7,18%, a 7,24 reais, corrigindo parte do desempenho mais robusto dos últimos dois pregões, em meio ao avanço do petróleo no exterior nesta sessão, com a rival Azul (AZUL4) perdendo 4,37%, a 12,92 reais.
Casas Bahia (BHIA3) recuou 5,45%, a 0,52 real, mesmo após o IBGE divulgar que as vendas no varejo no Brasil recuaram menos do que o esperado em agosto, com papéis sensíveis a juros como um todo sofrendo.
O índice de consumo na B3 encerrou com declínio de 2,91%.
Na contramão, Magazine Luiza (MGLU3) subiu 2,37%, a 1,73 reais, após tocar uma mínima desde 2017.