A Petrobras (PETR4) está evitando o trânsito de navios petroleiros contratados por ela no Mar Vermelho, diante dos ataques recentes a embarcações na região, sem incorrer em custos adicionais, uma vez que os principais fluxos de comércio da petroleira não dependem das rotas que vivenciam os maiores riscos no momento.
Segundo a Petrobras, até agora, apenas uma embarcação precisou desviar da rota, antes de entrar no Mar Vermelho, no início dos ataques.
De outro lado, a petroleira não tem exportado mais para preencher alguma demanda adicional no curto prazo, enquanto outras empresas estão levando mais tempo para fazer suas entregas.
“Até o presente momento, a Petrobras está evitando o trânsito de navios petroleiros contratados por ela, no Canal de Suez, no Mar Vermelho e na costa do Chifre da África, e isso não está afetando os custos para exportação de petróleo, que vai para outras regiões”, afirmou a Petrobras à Reuters por email.
“As importações, de igual forma, também não estão sendo afetadas, pois têm origem em outros portos longe das zonas dos conflitos.”
Outras importantes petroleiras globais como BP e a Shell informaram ter interrompido o trânsito por meio do Mar Vermelho, uma vez que os ataques a navios comerciais pelos houthis alinhados com o Irã impactaram o comércio entre a Europa e a Ásia.
Algumas companhias de navegação pelo mundo instruíram os navios a redirecionar as rotas pelo Cabo da Boa Esperança, um trajeto mais longo e mais caro.
“O impacto maior por enquanto é sobre o frete internacional, viagens mais longas pelo Cabo da Boa Esperança geram uma menor disponibilidade de navios devido a maior distância percorrida. Atrapalha o fluxo natural e mais eficiente”, disse o CEO da Petrobras, Jean Paul Prates, à Reuters.
Entretanto, o Brasil acaba sendo pouco afetado pelo encarecimento dos fretes na região dos ataques, pois mais da metade de seu petróleo exportado tem como destino a Ásia, com a China representando 46% do total, explicou o analista de mercado da StoneX Bruno Cordeiro, citando dados oficiais do governo.
“A rota que a gente faz principalmente Brasil-Ásia se dá pelo Cabo da Boa Esperança”, explicou Cordeiro, pontuando que o trajeto utiliza os oceanos Atlântico e Índico, sem a necessidade de passagem por canais em zonas de conflito.
O segundo maior comprador de petróleo do Brasil, lembrou o especialista, é os Estados Unidos, com cerca de 11% das exportações e acessado por meio do Oceano Atlântico.
Dentre os demais países de destino, grande parcela é composta por países europeus, também no Atlântico Norte, comentou Cordeiro.
A Petrobras também reconheceu que empresas de transporte marítimo pelo mundo estão sofrendo aumento de custos pela crise na região, decorrente da alta dos seguros marítimos. “Mas isso apenas está ocorrendo para os navios que navegam nas regiões dos conflitos, o que não está ocorrendo com os nossos contratados”, frisou.
A companhia disse que apenas um navio precisou ser desviado para carregamento dentro do Golfo Pérsico, longe da zona de conflito, no início dos ataques, antes de adentrar no Mar Vermelho. “Após o carregamento na Arábia Saudita, naturalmente seguiu a rota de volta para o Brasil, passando pela África do Sul, contornando o Cabo da Boa Esperança”, detalhou.
No curto prazo, os volumes de exportação brasileiros também não devem ser impactados pela situação no Mar Vermelho.
Questionado se a Petrobras poderia buscar se beneficiar do cenário com as tensões no Mar Vermelho e aumentar as exportações, o CEO da Petrobras afirmou que isso não tem acontecido, sem detalhar.
Um preço mais alto do petróleo em função de preocupações pelo conflito pode ter impactos conhecidos nos negócios da companhia, como maior valor das exportações ou eventuais repasses de valores para os derivados.
Cordeiro, da StoneX, pontuou que o Brasil não consegue mexer em níveis produtivos da mesma forma que outros grandes países produtores de petróleo, como os Estados Unidos, que tem ampla produção em terra e os poços podem ser fechados e abertos com mais celeridade, com benefícios comerciais.
A maior parte da produção de petróleo brasileira ocorre no pré-sal, em alto mar.
“O nosso modelo de produção é diferente do modelo não convencional norte-americano, onde há maior maleabilidade de aumento ou redução da produção, assim como a gente vê em diversos produtores da Opep, com destaque para a própria Arábia Saudita. No Brasil, a ampliação da oferta fica restrita principalmente aos investimentos relacionados principalmente ao pré-sal e pós-sal.”
A Petrobras adicionou que as importações de combustíveis pela empresa possuem origem diversificada globalmente, incluindo fornecedores nos portos dos Estados Unidos, Ásia e Europa, ou seja, “regiões que apresentam, nesse contexto, menor risco e atendem ao propósito de manter o suprimento e nossos estoques de combustíveis em níveis seguros”.