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Um Papo Sério Sobre Educação Financeira Para Crianças

by Redação Dinheirama
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Como ensinar o valor do dinheiro às crianças e quando começar? É responsabilidade dos adultos dar exemplos saudáveis na hora de mostrar a importância do equilíbrio financeiro, mas qual a melhor forma de fazer isso?

Convidamos a planejadora financeira Annalisa Dal Zotto, sócia da Par Mais, para discutir sobre este tema tão importante. “Os pais enfrentam com frequência o dilema do equilíbrio entre dar o melhor a seus filhos e ensiná-los a valorizarem o que têm”, diz a especialista.

Para Annalisa, o grande desafio é mostrar que o dinheiro é um recurso limitado e que é preciso diferenciar o que são necessidades e o que são desejos. “As crianças precisam desenvolver musculatura emocional para que possam tomar as melhores decisões financeiras quando adultos, não reagindo por impulso frente a tantas tentações”, diz. Confira a entrevista!

Qual a importância de se ensinar educação financeira para crianças e adolescentes? A partir de que idade isso pode ser feito?

Annalisa Zotto:  É fundamental ensinar a ter uma boa relação com o dinheiro. Diante do atual cenário conturbado da nossa economia, com estimativa de crescimento da inflação e alto endividamento das famílias, torna-se ainda mais importante a compreensão de como lidar bem com o dinheiro desde cedo.

O melhor momento para começar é por volta dos 8 anos, quando a criança está adquirindo os conhecimentos de matemática básica e já consegue fazer alguns cálculos. E a semanada/mesada é uma ótima ferramenta de educação financeira. O ideal é estimular a criança a pagar uma continha, fazer a conta de troco, guardar uma parte para algo que queira etc.

Como considera o melhor uso da semanada ou mesada? Quando os pais podem começar a oferecer este tipo de coisa?

A.Z.: Os pais podem começar falando sobre dinheiro, ensinando a usar no dia a dia, estimulando a guardar. Para crianças pequenas, a melhor forma é começar com semanada. Os pais devem estabelecer o valor através de critérios.

É preciso eleger quais são os gastos que a semanada/mesada vai incluir, como cantina da escola, transporte e cinema, por exemplo. Aos poucos os pais devem orientar a ter controle e como fazer boas escolhas. Se gastou todo o dinheiro em lanche, então terá que levar de casa, não pode dar mais dinheiro.

Além disso, vale colocar uma quantia a mais para a criança ter um objetivo que ela tenha que guardar um pouquinho toda semana para no final do mês comprar alguma coisa que queira. Dessa forma, ela aprende a esperar, a lidar com a frustração, aprende que é preciso primeiro guardar para depois gastar. Esse é um hábito super saudável.

Outra dica é que os pais não devem fazer chantagem. Não pode, por exemplo, não dar o dinheiro se a criança se comportar mal ou tirar nota baixa na escola. Há outras formas de resolver essas questões. Dinheiro da semanada/mesada é sagrado. Também é importante, aos poucos, partir da semanada para a mesada. Primeiro a cada 15 dias e depois passa para um mês. Os pais devem estar atentos do melhor momento para fazer transição na medida em que a criança vai criando maturidade e organização.

Como ensinar as crianças a valorizar o dinheiro?

A.Z.: Enfrentamos com frequência o dilema do equilíbrio entre dar o melhor aos nossos filhos e ensiná-los a valorizarem o que têm. Nosso desafio é mostrar que o dinheiro é um recurso limitado e que é preciso fazer escolhas.

Para isso, a mesada/semanada é uma ótima ferramenta. Também é muito importante criar o diálogo, incluir a criança nas conversas sobre dinheiro, deixar bem claro o que os pais podem e o que não podem dar, mostrar a importância do trabalho para se ganhar dinheiro etc.

Acredita que exemplos valem muito mais que palavras neste caso?

A.Z.: Com certeza dar o exemplo conta muito. É importante mostrar que eu vou trabalhar para ganhar o dinheiro, mas não de uma forma sofrida, e sim de uma maneira saudável e prazerosa. Acredito que o ideal é unir os dois: o exemplo e também muito diálogo.

Como corrigir as crianças que querem tudo e não veem limites nas compras?

A.Z.:  O primeiro passo é não dar e explicar que não é possível comprar determinado bem, mesmo que possa. Não dê tudo para os filhos, senão depois eles vão sofrer com as frustrações. Além disso, muitas vezes para adquirir alguma coisa a gente acaba se endividando.

Então, os pais também têm que fazer um pouco de reflexão, aprender a esperar, tolerar frustração de ter que adiar uma compra, “controlar a mesada” ou mostrar em números o que é possível fazer ou não, dependendo da idade. Isso ajuda as crianças se tornarem mais resilientes e com uma relação bem melhor com as finanças.

Como corrigir os pais que tentam compensar a falta de atenção com presentes?

A.Z.: Esses casos geralmente envolvem culpa. Por exemplo: “eu não tive e quero dar para os meus filhos”. Os pais precisam buscar autoconhecimento e encarar a responsabilidade de educar filhos. Muitas vezes os próprios pais devem aprender a lidar com as frustrações para entender que não devem compensar a culpa com presentes.

Ausência se compensa com convivência, com conversa, com diálogo e não com compras. A compra é boa na hora, mas logo dá uma sensação de vazio, além de não resolver a raiz do problema.

O que aprendemos na infância em termos de educação financeira acaba se refletindo na vida adulta?

A.Z.: Sim. Tudo acaba refletindo, principalmente a questão de lidar com consumo no dia a dia, ter limites, lidar com as frustrações… Mas, mesmo quem não teve educação financeira quando criança pode ir atrás de conhecimento depois de adulto.

Sempre é possível melhorar nossa relação com o dinheiro, estudando e aprendendo para se empoderar financeiramente.

Gostaria de dar alguns conselhos extras para quem está tentando começar a inserir esse tema na vida das crianças?

A.Z.: Todos, independentemente da idade, conseguem melhorar sua relação com o dinheiro através de estudo. É claro que trazemos muitos vieses, muitos padrões da infância e da adolescência que acabam nos atrapalhando.

Então, precisamos combater isso com uso da racionalidade, estudo de técnicas e muito autoconhecimento. É possível controlar as finanças e não ser mais controlado por elas. Hoje, encontramos muito conteúdo, artigos, ferramentas e cursos de qualidade e de forma gratuita que nos auxiliam na tarefa de ensinar educação financeira para nossos filhos.

No site da Par Mais, por exemplo, temos uma planilha da “mesadinha” bem fácil de ser preenchida e analisada pela garotada.

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