O sucesso estrondoso da estreia da Arm no mercado de ações torna muito mais fácil para o controlador SoftBank Group voltar ao seu estado natural, a busca por aquisições.
As ações da projetista britânica de chips saltaram quase 25% em seu primeiro dia de negociação – impulsionando seu valor para mais do que o dobro dos 32 bilhões de dólares que a SoftBank pagou para adquiri-la em 2016.
O gigante dos investimentos em tecnologia levantou quase 5 bilhões de dólares com a oferta da Arm, mantendo 90,6% da empresa.
Conhecido por suas aquisições apoiadas em emissão de dívida, o fundador e presidente-executivo da SoftBank, Masayoshi Son, sinalizou em junho que a empresa estava voltando para o “modo ofensivo” ao destacar o potencial da inteligência artificial. Isso aconteceu depois de um ano de “modo de defesa”, quando o valor das empresas de tecnologia despencou em meio a taxas de juros mais altas e nervosismo com a crise de bancos regionais dos Estados Unidos.
Independentemente de Son retomar ou não um ritmo frenético de aquisições, o fato das ações da Arm serem listadas permitirá que a SoftBank use mais facilmente os papéis da empresa como garantia, o que provavelmente melhorará a recomendação de crédito para a empresa obter melhores condições de empréstimos, dizem analistas.
Reação
A SoftBank não quis comentar sobre sua estratégia de aquisição. Aumentar a proporção do valor do ativo líquido (NAV, na sigla em inglês) da SoftBank mantido em ações listadas é um pré-requisito importante para elevar sua posição de crédito, disseram os analistas da SemiAnalysis.
“A esperança deles é que o preço das ações da Arm seja mais alto para poderem aumentar seu NAV e ajudar a reparar sua recomendação de crédito”, escreveram eles em uma nota.
A Softbank foi abalada quando a S&P Global Ratings cortou recomendação de longo prazo da empresa para “junk” em maio.
A agência citou a crescente exposição do grupo a empresas não listadas – que são mais difíceis de serem avaliadas – já que a companhia vendeu ativos em empresas listadas, principalmente a gigante chinesa do comércio eletrônico Alibaba, para estabilizar seu balanço.
Bom momento?
O momento é propício para Son dar vazão às suas inclinações aquisitivas, dada a queda no valor dos ativos e uma relativa falta de financiamento para as startups em estágio inicial que ele normalmente visa, dizem alguns analistas.
“Eles têm um poder de fogo que muitos fundos de capital de risco não têm”, disse Kyle Stanford, analista de capital de risco da PitchBook. “Se eles estiverem investindo na fase inicial, terão um pouco de elasticidade de preço para entrar nos negócios em que acreditam que precisam estar”, disse ele.
Dito isso, os analistas questionam se Son, também conhecido por escolhas que fracassaram – como a empresa de compartilhamento de escritórios WeWork – pode replicar o sucesso que teve com o Alibaba.
O fervor do mercado de inteligência artificial segue elevado e é difícil identificar as empresas que serão grandes beneficiárias da adoção dessa tecnologia. Poucas empresas do portfólio de investimentos da SoftBank demonstraram utilidade comercial em IA, disseram analistas.
Também não há garantia de que as ações da Arm permanecerão em alta, com alguns analistas alertando que as empresas de tecnologia podem estar prestes a passar por uma correção, uma vez que alta de seus preços, alimentada pelo entusiasmo dos investidores com a inteligência artificial, pode ter se esgotado.
“Há sinais de que a tecnologia está ficando cansada e supervalorizada”, disse Amir Anvarzadeh, estrategista da Asymmetric Advisors.