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Taxa de importação fortalece setor de turbinas eólicas do Brasil, geradores reclamam

A medida, que fixa uma alíquota de 11,2% de imposto de importação para todas as compras externas de turbinas eólicas a partir de 2025

by Reuters
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A tributação sobre importação de turbinas para geração de energia eólica instituída pelo governo foi comemorada por fabricantes domésticas como um primeiro passo para fortalecer uma indústria que é considerada estratégica e vinha passando por dificuldades nos últimos anos, com a suspensão de operações de grandes empresas no país.

A expectativa entre fabricantes e especialistas é de que a máquina produzida internamente volte a ser mais competitiva frente à importada, ajudando a frear o movimento recente de maior importação de equipamentos no setor. Geradores, contudo, chamaram a atenção para possíveis aumentos de custos dos projetos.

O Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex-Camex) anunciou no fim de dezembro mudanças na tributação sobre importações de painéis solares e aerogeradores, visando fortalecer a produção nacional de equipamentos para geração de energia renovável.

A medida, que fixa uma alíquota de 11,2% de imposto de importação para todas as compras externas de turbinas eólicas a partir de 2025, vem em uma conjuntura desfavorável para as fabricantes instaladas no país.

A repercussão da medida entre o setor eólico foi distinta da vista na cadeia de energia solar, que é fortemente dependente de importações. A retomada das tarifas de importação para painéis foi comemorada pela indústria elétrica e eletrônica, mas criticada pela Absolar, que representa geradores, fabricantes e outros players do segmento, que disse ver um impacto em 18 GW de projetos da fonte.

A indústria eólica, já bem consolidada no Brasil, enfrentou turbulências nos últimos anos, com disrupção nas cadeias de fornecimento aliada a uma pressão por mais entregas. Diante das dificuldades, duas gigantes mundiais, GE e Siemens Gamesa, interromperam suas atividades no país.

Segundo a associação de energia eólica ABEEólica, a medida do governo “corrige assimetrias”, uma vez que antes as empresas não pagavam imposto para importar máquinas inteiras, mas eram tributadas na compra de componentes para sua produção local.

(Imagem: Reprodução/Freepik/@wirestock)
(Imagem: Reprodução/Freepik/@wirestock)

“Estamos colocando as coisas em pé de igualdade”, disse Elbia Gannoum, presidente da entidade, ressaltando que este é apenas o primeiro passo de uma política industrial mais ampla e que deve envolver outras ações para uma “neoindustrialização”.

Ela ressaltou ainda que o Brasil vem batendo recordes no setor eólico, tendo instalado 4,8 gigawatts (GW) em aerogeradores em 2023, apesar do contexto mais desafiador para o desenvolvimento de novos projetos em virtude da sobreoferta de energia no país.

“Em uma fotografia de curtíssimo prazo, vemos uma demanda mais baixa, mas o cenário é outro no médio e longo prazo”, ressaltou a presidente da ABEEólica.

Para a fabricante dinamarquesa Vestas, a medida garante isonomia competitiva e é uma sinalização importante de que o Brasil quer desenvolver uma base industrial para o setor no momento em que grandes potências fazem o mesmo para depender menos de importações na transição energética.

“O Brasil já se mostrou muito competitivo… É importante que essa indústria permaneça não apenas viva, mas consistente e também se expanda, porque o Brasil pode se tornar um hub de exportação de aerogeradores para a América Latina e para outros mercados”, avaliou Leonardo Euler, vice-presidente de Assuntos Regulatórios e Governamentais da Vestas para América Latina.

O executivo afirmou ainda que a decisão foi importante para a companhia, que tem fábrica em Aquiraz (CE), reforçar seus planos de expansão, mas não entrou em detalhes. Na véspera, a Vestas anunciou uma extensão de seu contrato com a produtora brasileira de pás Aeris para até 2028.

Aumento de Custos

Apesar da animação na indústria, a medida tributária, que também abrangeu equipamentos de energia solar, foi vista com preocupação por geradores, que dizem ver potencial aumento dos custos de novos projetos renováveis.

O CEO da AES Brasil, Rogério Pereira Jorge, avaliou que a tributação, isoladamente, não é eficaz e pode até mesmo atrapalhar os planos de atrair ao país indústrias que buscam descarbonizar suas operações, uma vez que o custo da energia renovável tenderia a subir.

“Minha maior preocupação é que a energia renovável tem sido o maior fator de competitividade do Brasil para atração de indústrias”, disse o executivo, citando como exemplo a decisão da Alcoa de retomar sua produção de alumínio no país.

(Imagem: Reprodução/Freepik/@onlyyouqj)
(Imagem: Reprodução/Freepik/@onlyyouqj)

“A gente vê um movimento de produtores globais, tanto da parte solar quanto da eólica, de vir para o Brasil. Mas também vemos o contrário, de sair do Brasil… Sinal que não é uma questão do imposto de importação exclusivamente que impacta nessa tomada de decisão”, acrescentou Jorge.

A gerente de assuntos regulatórios da AES, Francine Martins Pisni, observou que há incerteza em relação a contratos de fornecimento de máquinas já fechados, uma vez que o imposto de importação é cobrado quando a mercadoria chega no porto.

“Na prática, não houve um período de transição para a eólica, todo mundo que tem algum contrato de venda com certeza vai ter esse imposto de importação cobrado.”

Camila Ramos, fundadora da consultoria Clean Energy Latin America (CELA), avalia que a taxação acaba nivelando o fornecimento de equipamentos pelo custo mais alto.

“Acredito que seria interessante para o país ter políticas para incentivar a produção local a ser mais competitiva, como desoneração fiscal, e não fazer a importação mais cara”, disse Ramos.

Gannoum, da ABEEólica, nega que os projetos de energia eólica podem encarecer após a medida tributária. “(A importação) não tem participação tão relevante assim, não é um efeito central”, disse ela, que não tinha dados sobre o total de equipamentos importados pelo setor.

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