O UBS Group anunciou nesta quinta-feira um amplo plano para cortar mais de 10 bilhões de dólares em custos e reduzir 3 mil postos de trabalho somente na Suíça, depois de ter assumido o controle do Credit Suisse este ano.
O plano de cortar cerca de um em cada 12 empregos na Suíça dá uma ideia da escala da mudança no recém-criado gigante do setor bancário, formado às pressas no início do ano em meio à crise do setor bancário internacional que fez clientes sacarem dezenas de bilhões de dólares do Credit Suisse.
A rodada inicial de cortes de pessoal segue a decisão da maior administradora de patrimônio do mundo de absorver o braço local do Credit Suisse – um sólido gerador de lucros que, no ano passado, foi a única divisão do ex-rival que apresentou resultados positivos – em vez de cindi-lo.
“Nossa análise mostra claramente que uma integração total é o melhor resultado para o UBS… e para a economia suíça”, disse o presidente-executivo do UBS, Sergio Ermotti.
O executivo escreveu em um memorando que 3 mil empregos na Suíça serão eliminados, mas a maioria por meio de mecanismos que incluem aposentadorias antecipadas. Em todo o mundo, 8.000 funcionários do Credit Suisse já saíram do banco no primeiro semestre do ano.
A previsão de mais de 10 bilhões de dólares em economia de custos até o final de 2026 se compara a uma estimativa anterior de 8 bilhões até 2027.
O anúncio fez as ações do UBS subirem para níveis não vistos desde 2008.
O UBS também afirmou que está observando recuperação da confiança entre seus clientes ricos e espera que mercados financeiros mais fortes também ajudem a elevar as comissões que recebe por transações financeiras.
A decisão do UBS de absorver a operação local do Credit Suisse é, entretanto, contestada na Suíça. O consultor Ethos, que representa os fundos de pensão suíços e as fundações que detinham participações em ambos os bancos, disse que a cisão do banco suíço teria evitado “um grande risco sistêmico para a Suíça, um importante impacto negativo sobre o emprego e questões para a concorrência.” O Ethos apoiou uma ação coletiva que busca um preço melhor do UBS para a aquisição. Com o Credit Suisse na Suíça intacto e independente, como alguns políticos esperavam, menos empregos teriam sido ameaçados.
A maior fusão de bancos desde a crise financeira global de 2008, orquestrada durante um fim de semana pelo governo suíço para evitar o colapso do Credit Suisse, criou um grupo cujos ativos podem ser comparados à produção econômica do país, cujos órgãos reguladores já tinham dificuldades para controlar grandes bancos.
Os cortes de vagas serão dolorosos para Zurique, o centro financeiro da Suíça, onde os bancos dominam a paisagem. A Associação Suíça de Funcionários de Bancos disse que os 37.000 funcionários locais dos dois bancos deveriam ser tratados de forma justa e igualitária.
O que está por vir
Os cortes de pessoal na Suíça dão uma amostra do que está por vir no banco global, cujo alcance vai de Wall Street a Londres.
A maior parte da economia de custos anunciada pelo UBS deverá vir do corte de pessoal e os analistas estimam que entre 30.000 e 35.000 empregos poderão ser eliminados do grupo globalmente.
Os analistas receberam com satisfação o anúncio, embora vários tenham sido cautelosos. A Jefferies descreveu a integração das duas empresas como “longa, desafiadora e provavelmente acidentada”. “O grupo continua sendo um canteiro de obras”, disseram os analistas do Deutsche Bank.
Os resultados também mostraram as dificuldades que o UBS tem tido para persuadir os clientes ricos do Credit Suisse a permanecerem no grupo. Mantê-los é visto como fundamental para que o UBS consiga realizar com sucesso a integração do antigo rival.
O Credit Suisse relatou saídas líquidas de ativos de 39 bilhões de francos suíços (44,4 bilhões de dólares) no segundo trimestre, ressaltando que o resgate pelo governo e pelo UBS não conseguiu conter a perda de confiança dos clientes.
Mas o UBS disse que os fluxos de saída desaceleraram e se reverteram em junho. A gestão global de patrimônios do UBS registrou um volume líquido de dinheiro novo de 16 bilhões de dólares
A união com o Credit Suisse – a primeira fusão de dois bancos globais de importância sistêmica – criou tanto oportunidades quanto riscos para o UBS.
Os analistas observam que o UBS adquiriu o Credit Suisse por apenas 3 bilhões de francos suíços mas, para que isso funcione, o UBS precisa cortar custos, reduzir o banco de investimentos do Credit Suisse e manter seus clientes ricos a bordo.
O UBS teve lucro líquido de 29 bilhões de dólares no segundo trimestre. Os resultados incluíram apenas um mês de números do Credit Suisse, já que o negócio foi fechado apenas em junho.
O lucro extraordinário resulta de um enorme ganho não recorrente que reflete o fato de os custos de aquisição terem ficado muito abaixo do valor do Credit Suisse.