A Volkswagen Caminhões e Ônibus vendeu 140 caminhões para o grupo de gestão de veículos pesados Vamos em um acordo que inclui a Gerdau como agente reciclador e ocorre no âmbito do programa de renovação de frota capitaneado pelo governo federal, anunciaram as companhias nesta terça-feira.
O programa foi lançado via Medida Provisória pelo governo federal em junho, com recursos de 700 milhões de reais que serão usados em descontos nos preços de veículos novos, cujas vendas este ano têm sido pressionadas em parte pela troca obrigatória de tecnologia que encareceu os veículos em relação à geração anterior.
Mas os recursos são finitos e o presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus, uma unidade do grupo europeu Traton, Roberto Cortes, prevê que serão suficientes para fomentar vendas até setembro apenas. Após o fim dos recursos, o programa será encerrado.
O programa de renovação teve uma versão voltada a veículos leves, que se encerrou em julho após esgotar os 800 milhões de reais em recursos alocados pelo governo para estimular a venda de novos.
“Diferente do programa para carros, a grande maioria dos recursos para caminhões ainda não foi usada porque o programa para eles é mais complexo e foi regulamentado mais recentemente”, afirmou Cortes. “Vamos (setor caminhões e ônibus) usar recursos provavelmente até setembro… Estamos pedindo para que o programa seja perene”, disse o executivo.
Pelo acordo anunciado nesta terça-feira, a Vamos vai comprar 140 caminhões da VWCO e entregar 140 unidades com mais de 20 anos como sucata para serem recicladas pela Gerdau. A Vamos afirmou que os caminhões foram adquiridos de motoristas autônomos. Já o grupo siderúrgico vai pagar à Vamos preços de mercado pela sucata gerada no processo, que por sua vez poderá ser reciclada nos fornos da companhia em produtos como vergalhões usados na construção civil.
O esquema do governo federal concede certificados de desconto – de 33 mil a 99 mil reais – na compra de modelos novos a cada veículo antigo retirado de circulação.
O presidente-executivo da Vamos, Gustavo Couto, afirmou que a empresa, que tem uma frota de cerca de 35.400 caminhões no país, pode ter uma economia de 4% a 5% no custo de aquisição de um modelo novo por meio do programa de renovação do governo.
“Pode parecer pouco, mas para nós ajuda”, disse o executivo. “A ideia é que o programa ocorra em etapas. A primeira etapa é dar visibilidade para que o programa pegue tração. É um programa limitado e gostaríamos que ele fosse uma política pública para renovação da frota brasileira”, acrescentou o executivo quando questionado sobre o volume de recursos disponibilizado pelo governo.
Cada caminhão gera em torno de 5 a 10 toneladas de sucata de aço, em média, afirmaram os executivos. O preço do material atualmente gira em torno de 800 a 1.200 reais a tonelada, disse Couto, citando que um caminhão novo custa entre 500 mil a 900 mil reais.
Cortes citou dados de 2017 da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) ao comentar que a frota de caminhões com 20 a 30 anos de uso no Brasil é de cerca de 400 mil veículos. A média de idade da frota nacional, segundo Couto, é de 21 anos, o triplo da Europa e quase o dobro dos Estados Unidos.
Queda Livre
A parceria das empresas ocorre em um momento que as vendas de caminhões novos no Brasil amargam queda de 12% no acumulado de janeiro ao final de julho, a pouco menos de 61 mil unidades, segundo dados da associação de montadoras Anfavea. A situação do mercado fez a VWCO implementar em maio suspensão de contratos de trabalho para cerca de 30% de seus operários no complexo fabril de Resende (RJ) até o início de setembro, disse Cortes.
A comercialização de caminhões e ônibubs tem sido pressionada desde o início do ano, quando passou a valer regra que obriga as montadoras a produzirem modelos com menores emissões de poluentes por meio da chamada tecnologia “Euro 6”, que encareceu os produtos em 15% em média em relação à geração anterior, disse o presidente da VWCO.
O baixo crescimento da economia combinado com juros elevados também tem desestimulado os emplacamentos. Segundo o executivo, os estoques de veículos “Euro 5” devem se esgotar em setembro.
Em meados de julho, a rival Mercedes-Benz anunciou venda de 110 ônibus e seis caminhões novos para a empresa de transporte rodoviário Suzantur, no que foi considerado pelo governo federal como a primeira venda significativa de veículos comerciais dentro do programa de renovação de frota.
Cortes afirmou que a tendëncia para o mercado de veículos pesados do Brasil nos próximos meses está mais positiva, após o início de redução de juros pelo Banco Central neste mês e lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que tende a incentivar investimentos na economia.
Mesmo assim, ele defendeu uma redução mais significativa nos juros do Finame, linha do BNDES voltada para financiamento de máquinas e equipamentos e que é usada pelo setor de veículos nas vendas de caminhões e ônibus. Isso porque o programa de renovação de frota, em sua avaliação, serve “para ajudar a não deteriorar ainda mais as vendas”.
Segundo Cortes, as taxas do Finame, que custumavam carregar um diferencial de 8 a 10 pontos percentuais em relação aos juros de mercado, hoje estão apenas 1 a 2 pontos percentuais menores. “Não está suprindo mais o objetivo que era fomentar a modernização do parque de máquinas e equipamentos no país”, disse.