O Banco Central jogará com as palavras nesta quarta-feira (20) em sua decisão de política monetária para dar mais liberdade ao Copom (Comitê de Política Monetária) em sua trajetória de cortes de juros.
O resultado esperado pelos economistas é o mesmo: redução unânime de 50 pontos-base na Selic, levando-a para 10,75%. Já a redação do comunicado que acompanhará este anúncio será diferente.
“Nossa expectativa é de que o Copom deixe de indicar, com o atual grau de clareza, os passos seguintes do ajuste monetário”, explica a LCA Consultores em um relatório distribuído para clientes nesta manhã.
Ajustar o “guidance” daria ao Copom graus extras de liberdade para calibrar o ritmo da flexibilização, dado um cenário de inflação interna ainda complexo e um ambiente externo incerto, avalia Alberto Ramos, economista-chefe do Goldman Sachs para a América Latina.
“Na nossa avaliação, o custo da alteração da orientação só aumentaria à medida que avançássemos no ciclo de flexibilização”, diz Ramos.
Inflação
Segundo a consultoria, um dos fatores a favor da ampliação do grau de liberdade do Copom em relação à continuidade do ciclo é a alta recente da inflação de relevantes grupos de bens e serviços do IPCA.
”A elevação de diversas medidas de inflação subjacente é preocupante, ao mostrar que a ‘última milha’ do processo de desinflação está sendo, efetivamente, mais difícil e lenta, e que isso poderá eventualmente ter impacto negativo sobre as expectativas de inflação”, explica.
Jogo com o mercado
Já o outro ponto que atua na direção de mudança do comunicado é que o mercado já precifica uma redução do ritmo de ajuste a partir de junho.
“Ademais, o tema tem sido discutido publicamente por alguns dos diretores do Banco Central e diversas vozes do mercado financeiro têm se manifestado a favor deste ajuste. Portanto, o custo de ele ser feito neste momento é baixo”, explica a LCA.
O que mudará no Copom?
Segundo o Goldman Sachs, as diferenças em relação ao último anúncio serão três:
1. Manter a orientação de “mesmo ritmo para as próximas reuniões” (probabilidade 65%)
O Copom manteria a orientação atual, mas reforçaria e tornaria ainda mais explícito que o que o comitê fornece é uma orientação condicional, ou seja, estritamente condicionada à materialização do cenário base e o benefício da orientação é agregar transparência às discussões e tomada de decisão e para coordenar as expectativas, em vez de um pré-compromisso com movimentos específicos da taxa diretora (probabilidade de 30%).
Manter o plural em “mesmo ritmo para as próximas reuniões”, mas acrescentar que esta será a última reunião onde o Copom fornecerá orientação por mais tempo do que a próxima reunião, ou uma versão alternativa mais suave, dizendo que o Copom antecipa, ’em nesta conjuntura específica’, mantendo o mesmo ritmo para as próximas reuniões (probabilidade de 35%).
2. Encurte a orientação (do plural para o singular).
Elimine o plural de “reuniões”, ou seja, oriente o mercado a esperar condicionalmente outros 50 pontos-base apenas para a próxima reunião (probabilidade de 25%).
3. Abandone o guidance e se explique
Entretanto, para reduzir o sinal e/ou impacto nas expectativas do mercado para movimentos de política de muito curto prazo e a taxa terminal, o Copom afirmaria que não se deveria ler muito ao eliminar o guidance, uma vez que o macro e o balanço geral de riscos estão evoluindo conforme esperado e não se alteraram nem se desviaram materialmente dos disponíveis na reunião do final de janeiro (probabilidade de 10%).