O Federal Reserve decidiu, nesta quarta-feira (26) elevar o juro da economia norte-americana de um intervalo de 5% a 5,25% para uma faixa entre 5,25% e 5,5%, em uma decisão unânime dos 11 diretores do Fomc (Federal Open Market Committee), após mantê-lo em junho. É o maior nível em 22 anos.
Um aumento de 25 pontos-base por trimestre representaria uma desaceleração significativa no ritmo de aumentos para o segundo semestre de 2023 em relação ao visto desde o início das altas em março de 2022. Esse poderia ser o plano do Fed, apontam economistas consultados pelo Dinheirama.com.
Os rendimentos das notas do Tesouro de dois e 10 anos caíram um pouco em comparação aos níveis anteriores ao lançamento da decisão, enquanto as ações dos EUA terminaram sem uma direção definida. No Brasil, o Ibovespa subiu 0,45%, a 122.560 pontos.
Este encontro não incluiu uma atualização do “Resumo das Projeções Econômicas do Comitê”, que traz o gráfico de pontos com uma espécie de “Relatório Focus” do BC americano. O ponto médio nas projeções de junho foi para uma taxa de fundos federais de 5,625% no final do ano, o que implica mais um aumento da taxa entre agora e o final de 2023.
CME
Os mercados futuros mostraram que as apostas no caminho dos aumentos das taxas foram pouco alteradas, vendo pequenas chances de um aumento em setembro.
De fato, a maior parte do mercado precifica a manutenção do juro nos EUA ao final de sua próxima reunião em 20 de setembro de 2023, revelam os dados implícitos nos preços de futuros da Fed Funds Rate dos últimos 30 dias coletadas na CME (Chicago Mercantile Exchange), mas esta parcela caiu de 78,7% para 75,2% de ontem para dados coletados após a entrevista coletiva dada pelo chairman Jerome Powel.
Enquanto isso, a fatia dos investidores que esperam uma elevação subiu de 21,3% para 24,8%
“Se for necessário um aumento, a data mais provável é 1º de novembro, já que os dados agora apontam um aumento de 25 pontos-base por trimestre – uma clara desaceleração”, avalia Stephen Gallagher, economista do Société Générale.
Miopia
No comunicado, o Fed novamente evidenciou a resiliência da economia, expandindo a um ritmo moderado, com dados de emprego fortes e com a inflação ainda alta, ressaltando que seu compromisso é trazê-la de volta para a meta de 2%, lembram Alexandre Espirito Santo e Eduarda Schmidt, economistas da Órama Investimentos.
O Comitê reforçou que o sistema bancário está sólido e resiliente, porém as condições de crédito permanecem apertadas para as famílias e comércio, com consequências ainda incertas. Nesse ponto o Comitê permanece vigilante aos riscos inflacionários.
“Em relação à decisão da próxima reunião, o Fomc afirma no documento que há necessidade de monitorar as novas informações e suas implicações sobre a economia, o que deixa a porta entreaberta para novas (pouco prováveis a nosso ver) elevações”, avaliam Santo e Schmidt.
Apesar de inconclusivo, o Fed se coloca preparado para atuar, em caso de riscos inflacionários que possam desviá-lo do objetivo de retorno à meta, observa a Órama.
Francisco Nobre, economista da XP Investimentos, acredita que as taxas de juros atingiram níveis suficientemente restritivos, e a dinâmica de preços já deu sinais de melhora suficientes para justificar o fim do ciclo de aperto. “Portanto, apesar de ter deixado as portas abertas, achamos que o Fed não entregará os 25 bps adicionais sugeridos pelo último Resumo das Projeções Econômicas”, pontua.
Étore Sanchez, economista da Ativa Investimentos, lembra de uma importante mudança na redação do comunicado.
“O Fed afirmou que segue vigilante e que os próximos passos dependerão do comportamento da economia, mas fez um aceno dovish, ao modificar a sinalização de “alguns membros acham provável outro aumento” para uma sinalização aberta, nos faz reafirmar a perspectiva de que o Fed não irá subir o juro novamente. Vale mencionar que o Powell classificou a política monetária como suficientemente restritiva”, destaca Sanchez.
Entrevista concedida após a decisão:
Em sua entrevista coletiva, Powell afirmou que era “possível” que o Comitê pudesse aumentar novamente em sua reunião de setembro, mas ele rapidamente seguiu essa declaração observando que também era “possível” que o FOMC ficasse em espera na próxima reunião. A dependência de dados foi um tema-chave em seu debate com os jornalistas.
“De um modo geral, os comentários do presidente parecem reiterar que o FOMC quer manter a máxima flexibilidade enquanto aguarda dados futuros que ajudem a determinar se a política monetária é suficientemente restritiva para trazer a inflação para um nível mais tolerável”, apontam Jay H. Bryson e Michael Pugliese, economistas do Wells Fargo.
Segundo o Wells Fargo, com a taxa “confortavelmente acima de 5%”, o balanço patrimonial do Fed encolhendo constantemente e o núcleo da inflação tendendo para baixo, o argumento para um aperto adicional é mais tênue. “Dito isto, não ficaríamos chocados se o FOMC espremesse mais um aumento de taxa entre agora e o final do ano”, ponderam Bryson e Pugliese.
Para Thomas Monteiro, analista sênior de Investing.com, é importante que o Fed administre as expectativas dos investidores, à medida ele se aproxima do que poderia ser o aumento final da taxa de juros deste ciclo. Ao introduzir um elemento de incerteza, o Fed pretende evitar a recorrência da situação de mercado vivida em 2021.
“Esta situação deve aumentar as preocupações, pois pode criar um dilema: ou o Federal Reserve precisará encontrar uma maneira de alinhar suas mensagens com medidas concretas, ou poderá haver um lamentável ressurgimento das pressões inflacionárias nos Estados Unidos”, analisa.
Monteiro entende que a dissonância entre o Fed e o mercado é algo que deve estar no radar dos investidores para o segundo semestre. No entanto, parece que o mercado ainda não abraçou totalmente o discurso do Fed, pois continua focado principalmente em suas ações práticas.
“O lançamento da inflação em junho mostrou mais progresso do que o esperado, embora o Fed seja sábio em não confiar muito na leitura de um mês. Diante disso, juntamente com sinais de moderação econômica, sentimos que o Fed pode parar de caminhar”, pontua Gallagher, do SócGén.
O Fomc receberá mais dois Relatórios de Emprego e duas leituras adicionais da inflação oficial (CPI) entre agora e sua próxima reunião de 19 a 20 de setembro. O Simpósio Econômico anual de Jackson Hole, a ser realizado de 24 a 26 de agosto, também irá oferecer a Powell outra oportunidade de oferecer sua avaliação das perspectivas econômicas dos EUA.
Confira alguns comentários de Powell durante a entrevista:
“Eu diria que certamente é possível que aumentemos [as taxas] novamente na reunião de setembro, se os dados justificarem (…) E eu também diria que é possível que decidamos pela manutenção. E vamos fazer avaliações cuidadosas, como eu disse, reunião por reunião.”
“Temos que estar prontos para seguir os dados e, considerando o quão longe chegamos, podemos ser um pouco pacientes e resolutos”;
“Eu diria que o que nossos olhos estão nos dizendo é que a política não foi restritiva o suficiente por tempo suficiente para ter todos os efeitos desejados”;
“Pretendemos manter a política restritiva até estarmos confiantes de que a inflação está caindo de forma sustentável para nossa meta de 2%, e estamos preparados para apertar ainda mais, se for apropriado”
“Precisamos ver se a inflação caiu de forma duradoura. … Achamos que precisaremos certamente manter a política em um nível restritivo por algum tempo e precisamos estar preparados para aumentar ainda mais se isso, se acharmos que é apropriado”