🕵️♂️ Analisando
Desvendando o modelo de negócios das empresas
Simpar em queda livre
Por Thiago Duarte
Simpar (SIMH3) foi uma das ações que mais sofreu nas nossas carteiras nas últimas semanas. E a explicação para isso é uma só: é um problema de custo de capital. Afinal, cases como o da Simpar, muito alavancados, sofrem consideravelmente mais com oscilações na expectativa futura dos juros do que cases pouco alavancados.
Mas não achamos que isso seja um problema. Até porque, apesar do estresse na taxa de juros americana de longo prazo, nos últimos dias ela parece ter dado uma arrefecida. Como o último movimento da Selic foi de queda, e essa tendência deve continuar, hoje vamos explicar como a queda da taxa pode destravar valor na Simpar. Então aperte os cintos que a viagem vai ser turbulenta.
Atualmente a Simpar acumula uma dívida bruta gigante, de R$ 39,3 bilhões.
Trata-se de uma dívida que, apesar de alta, é de longo prazo, com a maior parte vencendo entre 2026 e 2031. Além disso, até o final do 2T23, a empresa tinha R$ 7,9 bilhões em caixa. Se a gente atualizar com as captações já ocorridas no 3T e com o follow-onda Vamos (VAMO3), esse número salta para R$ 10 bilhões, o suficiente para cobrir amortizações até 2025.
Aqui a gente precisa destacar que a flexibilidade financeira da Simpar é limitada por covenants, que são cláusulas contratuais que exigem a manutenção do índice de dívida líquida sobre Ebitda adicionado abaixo de 3,5x e índice de cobertura de juros pelo Ebitda adicionado acima de 2x apurados trimestralmente. Isso quer dizer que o Ebitda da empresa tem que ser 2x maior que o pagamento de juros da dívida no trimestre.
Felizmente, a empresa vem mantendo esses indicadores em patamares permitidos. Mas repare que o primeiro indicador vem aumentando e o segundo diminuindo.
Isso quer dizer que a proporção do Ebitda na dívida vem ficando menor, assim como a despesa com os juros dessa dívida vem tomando uma parte cada vez maior do Ebitda.
A medida que a gente prefere usar aqui é o Ebit, já que ele tira a depreciação. Repare que o Ebit do 1S23 ficou apenas R$ 113 milhões acima da despesa financeira líquida. Isso quer dizer que quase todo o lucro operacional da empresa foi usado para pagar juros da dívida. Mas será que isso é um problema?
Tecnicamente, enquanto a empresa conseguir pagar os juros com o seu lucro operacional está tudo bem. Ainda mais uma empresa com ativos com alta liquidez como a Simpar (vender carros e caminhões é mais fácil que fornos industriais, por exemplo). Então, não. Não é um problema. E esse “não problema” fica ainda menor quando a gente considera a queda da Selic e sua atual tendência.
Na última reunião do Copom, a taxa Selic caiu para 12,75% e o comunicado foi de que a redução deve continuar no mesmo ritmo. Isso quer dizer que a despesa financeira líquida da Simpar pode ter atingido um pico no último trimestre. A lógica segue abaixo.
Boa parte da dívida da empresa está indexada ao CDI + spread. Como a Selic anda lado a lado com o CDI, quando a taxa Selic cai, o CDI também cai. Se o CDI cair, a despesa financeira da Simpar cai. Logo, Selic menor significa menos despesas com os juros da dívida. Por sua vez, uma menor parte do lucro operacional vai ser usada para pagar os juros. Se sobra mais lucro operacional, a tendência é que haja mais lucro operacional.
Em resumo, a cada 1 p.p. de redução na Selic, R$ 310 milhões ao ano serão economizados com pagamento de juros.
Ou seja, caso aconteça uma queda de 3 p.p. na Selic, isso vai fazer o grupo economizar quase R$ 1 bilhão ao ano. Somado a isso, dentro do grupo existem ativos ainda em implementação, cujos resultados devem aparecer no 3T23 e no 4T23. É só pensar que quando o grupo compra um caminhão ou máquina para alugar, ou pega um novo contrato de transporte, ele gasta antes desse ativo ou novo contrato começar a gerar dinheiro.
Por isso, assim que o ativo ou novo contrato começa a gerar grana, o Ebitda da empresa sobe e a alavancagem financeira cai. Justamente porque mexe nas fórmulas que vimos ali em cima, de dívida líquida/Ebitda e Ebitda/juros. A consequência é que a combinação desses dois movimentos, de queda na despesa com juros e aumento de Ebitda, vai impactar muito positivamente os resultados do grupo.
O que a gente espera é que, com mais lucro e menos alavancagem nos trimestres seguintes, haja uma percepção mais apurada do mercado com relação ao valor do grupo como um todo. Mas sabe o que é melhor nesse case?
É que a taxa de juros nem precisa cair para termos upside. Mesmo que elas continuem nos patamares atuais, a Simpar nos parece uma boa empresa, com crescimento acelerado e bem posicionada, mesmo se a Selic permanecer em 12,75%.
🔮 Especulando
Refletindo sobre (possíveis) efeitos de segunda ordem
O futuro é elétrico
Por Thiago Duarte
Os metais marcam a história da humanidade desde a Idade do Bronze, que começou por volta de 3 mil anos antes de Cristo. O primeiro a fazer sua presença indispensável foi o cobre, já que existem registros do uso desse metal desde 5 mil anos a.C.
Fato é que muitos historiadores consideram a Idade do Cobre como parte da Idade do Bronze, afinal o bronze nada mais é que uma liga de cobre e estanho. A vantagem da liga resultante da combinação dos dois materiais é a resistência e dureza — muito maiores que a do cobre puro.
Certamente seu uso foi crucial para o desenvolvimento de ferramentas e técnicas de caça, agricultura e guerra, atividades que acompanham a humanidade até os dias atuais.
A fundição do ferro, mais abundante, só veio séculos mais tarde. Atualmente, a liga formada por ferro e carbono, mais conhecida como aço, domina a indústria contemporânea. No entanto, é um metal mais antigo que anda ganhando os holofotes novamente: o cobre.
Acontece que o cobre tem um papel importante na transição energética de fontes poluidoras para fontes “limpas” ou pelo menos com baixa emissão de gás carbônico. Talvez seja o papel mais importante na transição, já que ele faz parte da fabricação de fiação elétrica, circuitos de turbinas eólicas e carros elétricos.
Um carro elétrico usa 4x mais cobre que um carro à combustão. E a gente nem está falando das baterias ainda. De fato, o cobre não está sozinho nesta nova onda. Ele vem acompanhado do níquel, do lítio, do cobalto. Esses, sim, relacionados com as baterias dos veículos elétricos, mas não só deles. Celulares, iluminações portáteis, câmeras e uma infinidade de objetos eletrônicos — tão presentes na sociedade moderna — também demandam esses metais.
Importância dos Minerais Críticos em Diferentes Tecnologias e Setores Energéticos
Por força da COP 26, organizada pelas Nações Unidas, 120 países assumiram um compromisso: até 2050 os países compromissados têm que remover da atmosfera o mesmo tanto de emissões de carbono que liberam na atmosfera.
E adivinhe só? Para cumprir as metas em tão pouco tempo será necessária uma quantidade enorme dos metais acima, já que por enquanto os pilares da eletrificação são energia eólica, solar e baterias. Por isso, o esperado é que até 2030 os veículos elétricos representem pouco mais da metade das vendas globais de veículos leves. Um veículo elétrico típico carrega perto de 205 kg de metais, 6x mais que um veículo à combustão.
Da mesma forma, o esperado é que a geração eólica e solar passe dos atuais 1.500 GW para mais de 20.000 GW de capacidade instalada até 2050. Cada MW dessas usinas demanda até 10x mais metais do que uma usina de gás natural.
Ou seja, o lado da demanda parece bastante promissor. Mas como anda a oferta?
Quando se trata do cobre, a Refinitiv acredita que vá faltar oferta suficiente. Estima-se que podem faltar alguns milhões de toneladas até meados da próxima década. Até o momento, os patamares de preço da tonelada não estão compensando os custos de abertura de novas minas. Isso só deve acontecer após o preço passar dos US$ 8.500 a tonelada.
O problema é que uma mina de cobre leva 10 anos para ser colocada em operação plena, razão pela qual seria necessário iniciar novos projetos agora. Mas eles não estão acontecendo. A boa notícia é que empresas com projetos já em operação, como a Vale, podem se beneficiar desse gap entre oferta e demanda.
O guidance da empresa é produzir 90,30 mil toneladas a partir de 2029. Isso quer dizer que se as previsões se concretizarem e a transição energética for alcançada pelos países da COP 26, a Vale de 2029 vai estar em um ótimo momento de produção do metal.
Se os preços acompanharem e chegarem próximos a US$ 10.000 a tonelada, estamos falando de um incremento de receita de US$ 9 bilhões. Isso representa por volta de ¼ da receita atual da empresa. E olha que é só da produção de cobre.
O níquel também é promissor. Mas não é provável que exista baixa oferta no futuro. No entanto, o níquel é um metal bem caro, só no 2T23 a Vale vendeu a tonelada por US$ 23 mil. Como o guidance de 2029 é produzir 300 mil toneladas, se o preço se mantiver estável, estaremos falando de um possível incremento de US$ 6,9 bilhões na receita.
Dito tudo isso, não parece que os árabes pagaram US$ 3,5 bilhões em 13% da operação de metais básicos da companhia à toa.
😎Fala Dudu!
Sua carta sátira semanal do gestor do primeiro hedge fund de Niterói
Por @dudufromniteroi
Bom dia, meu sobrinhos.
Ao som de “A lua me traiu”, passei o fim de semana numa mega friaca aqui em Niterói e sem ver o tal do eclipse. Ou seja, já vim para o escritório com um pé de coelho para evitar o azar, que deu 3 sinais FORTÍSSIMOS na semana passada.
Bora pras notícias de ontem?
PRIMEIRO SINAL DE AZAR – Em tempos sombrios, nós temos um poço de equilíbrio e sensatez no nosso país: o Partido da Causa Operária, o PCO.
Pior que eu nem tô gastando e eles realmente trazem argumentos sensatos nos mais diversos temas nacionais. Porém o pior aconteceu: eles declararam apoio ao Hamas. Aí complica, né campeão.
Agora informamos a todos que o Nikiti Asset Management voltou a ser apartidário. Quem achar ruim que o fundo é isentão, só comprar minha parte hihi.
SEGUNDO SINAL DE AZAR – O Conselho Executivo do Comitê Olímpico Internacional (COI) se reuniu em Mumbai e votou a favor da inclusão dos seguintes esportes nas Olimpíadas de Los Angeles, em 2028: críquete, flag football, squash, beisebol/softball e lacrosse.
Onde que diabos alguém joga lacrosse neste mundo, meu pai amado??? O que raios é flag football? O céu nublado do eclipse trouxe este mau presságio de ter mais esportes de americanos nas Olimpíadas.
O motivo é simples: eles ficaram em choque em Tóquio. O Brasil simplesmente tirou onda no surfe e botou criança no skate pra ver se teriam chances e mesmo assim foram de ralo. Porém o regime imperialista não irá nos impedir, e aproveito pra anunciar TAMBÉM um patrocínio pra montar o primeiro time de lacrosse de Niterói (pobres não serão permitidos, pois é esporte de rico👍).
TERCEIRO SINAL DE AZAR – O FMI atualizou suas estimativas e verificou que, em 2023, o Brasil deve virar a 9ª maior economia do mundo. Pela previsão atual, o PIB do Brasa vai aumentar US$ 2,127 trilhões este ano, US$ 9 bilhões a mais que o Canadá (10º). Em oitavo lugar fica a Itália, com US$ 2,186 trilhões. Se a gente se esforçar um pouquinho e abrir mais bancos e montadoras, a gente passa os italianos.
Porém essa notícia é nosso último sinal de azar. Primeiro é que se o Brasil tá no top 10, ou o mundo tá muito ruim, ou a gente tá queimando muito dinheiro pra crescer. Segundo, a última vez que o PIB brasileiro ficou nessa posição foi em 2019, antes da pandemia. Sinais! Os sinais estão em toda parte!
🍷 Sommelier
Consumimos de tudo. Trazemos o que importa
📺 Vídeos
Por Thiago Duarte
O que seria de nós, seres humanos, se não fossem os livros? Nada, certo?!
Por milhares de anos a escrita teve papel fundamental na transferência de conhecimento. E esse papel continua sendo exercido hoje em dia pelos livros. É claro que outras mídias estão cada vez mais presentes no nosso cotidiano, como vídeos do YouTube, por exemplo. E é por isso que eu fiz um vídeo sobre livros.
Neste vídeo eu separo 10 livros imprescindíveis, que todo investidor deve ler. Confere lá e me fala nos comentários se você vai querer uma parte 2!
⏳ Atemporalidades
Leia agora, leve pra vida
“Tenho um otimismo realista, porque a condição humana é falha. Todos nós somos atores nesse palco que é o mundo.” – Fernanda Montenegro, a rainha do teatro brasileiro, que completa 94 anos nesta semana.
“Pouca sinceridade é uma coisa perigosa, e muita sinceridade é absolutamente fatal.” – Oscar Wilde
“Falar é ter demasiada consideração pelos outros. Pela boca morrem o peixe e Oscar Wilde.” – Fernando Pessoa
Por hoje é só pessoal 🤙
Bebam café, se hidratem e busquem sempre conteúdo de qualidade.
Boa semana e bons negócios!
Abraços,
Por Leandro Siqueira
É especialista em ações da Spiti e bacharel em Economia pela UFRJ. Atuou na gestão de clube de investimentos e no banco de investimento Modal antes de fundar a plataforma de educação financeira Varos (ex-Edufinance). Hoje, lidera um time de sete analistas CNPI.