O ciclo de notícias de março esteve focado na quantidade de capital fluindo para ETFs de bitcoin (BTCUSD), e parte dessa narrativa centrou-se na saída de capital de ETFs de ouro para fundos da criptomoeda.
Apesar disso, segundo uma análise do Conselho Mundial do Ouro, os dados não apoiam este pensamento.
“As saídas de ETFs de ouro globais – e particularmente de fundos na União Europeia – começaram muito antes do lançamento dos ETFs do Bitcoin e não aceleraram após terem sido lançados”, aponta um relatório publicado nesta terça-feira (9).
E, nas últimas semanas, o crescimento do valor sob administração em produtos de Bitcoin e em ETFs de ouro dos EUA tem sido fortemente correlacionado.
Ativos sob administração dos ETFs de Bitcoin e ouro
O ouro à vista saltou 9,3% em março, o seu desempenho mensal mais forte desde julho de 2020, apesar do dólar forte e das elevadas taxas de juro reais dos EUA. Essa recuperação continuou, com o ouro atingindo máximos recordes sucessivos durante as últimas sete sessões, atingindo US$ 2.353,79 por onça na segunda-feira.
“Vemos as saídas de ETFs de ouro mais como especulativas do que estruturais ou causadas pelas entradas para Bitcoin”, explica o documento.
Conforme o Conselho, há possibilidade de o mercado estar caminhando para um ponto de virada, com as evidências sugerindo haver mais compradores potenciais do que vendedores.
“Consideramos também que as recentes entradas na América do Norte e um abrandamento nas saídas europeias sugerem um ponto de virada”, conclui.
Bancos centrais
Os principais bancos centrais do mundo estão trocando o perfil das suas reservas oficiais de títulos do Tesouro dos EUA (Treasuries) por ouro, elevando os preços do metal para níveis recordes.
A China divulgou nesta semana que suas reservas de ouro aumentaram 5 toneladas em março — aumentando pelo 17º mês consecutivo. Durante os primeiros três meses de 2024, as suas participações aumentaram em 27 toneladas, para 2.262 toneladas.
O movimento faz parte de uma demanda global por BCs que já está em alta há dois anos e que parece continuar em 2024. A Turquia, a Índia, o Cazaquistão e alguns países da Europa Oriental têm comprado ouro este ano juntamente com a China.
“Os fundamentos que sustentam a atual recuperação incluem o crescente risco geopolítico, as compras constantes do banco central e a procura resiliente de joias, barras e moedas. Juntamente com a perspectiva de taxas de juro mais baixas no futuro, a sugestão é que os ETFs perderam a recuperação e estão agora sub afetados”, mostra um relatório de mercado produzido pelo Conselho Mundial de Ouro nesta semana.
Troca global
A corrida pelo ouro dos bancos centrais é sustentada pelos desequilíbrios da economia global, como o forte aumento das emissões de dívida. Segundo a Crescat Capital, o atual aumento nas emissões de dívida soberana não tem paralelo.
“Mesmo durante a década de 1940, um período caracterizado por elevados níveis de dívida pública, existia um certo grau de estabilidade com o sistema monetário dos EUA ancorado no ouro. O ambiente atual apresenta um forte contraste. Apesar das pressões inflacionárias generalizadas na economia, testemunhamos o que pode ser descrito como o ambiente monetário e fiscal mais indisciplinado da história”, explicam Kevin C. Smith e Tavi Costa, em um relatório enviado a clientes no final de março.
“Os bancos centrais não têm outra alternativa senão assumir a responsabilidade por estes desafios, agindo como principais fornecedores de liquidez para resolver os seus próprios desequilíbrios de dívida soberana e de avaliação de ativos. Consequentemente, o papel do ouro como um ativo universal e neutro, com milênios de história como dinheiro, experimenta um ressurgimento em relação aos títulos do Tesouro dos EUA para acumulações globais de reservas do banco central”, pontuam.