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Caderneta de poupança cresce na pandemia: isso faz sentido?

by Conrado Navarro
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Não há dúvida de que a caderneta de poupança é o investimento mais popular do Brasil, mesmo que hoje seu retorno não consiga ser tão interessante a ponto de colocá-la como um investimento de verdade (vamos falar disso adiante).

Segundo as novas regras criadas em 2012, a caderneta de poupança passou a render o equivalente a 70% da Taxa Selic, que baixou recentemente para 3% ao ano. Assim, a rentabilidade da poupança atualmente é de 2,1% ao ano.

Para muitas famílias, a poupança é sinônimo de liquidez e facilidade de acesso ao dinheiro. Assim, ao se anteciparem frente à emergência da realidade, muitos brasileiros acabam mantendo mais recursos na poupança, tirando de outras aplicações.

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Caderneta de poupança cresce na pandemia

Em abril, a caderneta de poupança recebeu milhares de novos aplicadores e recursos. Os brasileiros depositaram nada menos que R$ 215,36 bilhões na poupança, sacando R$ 184,9 bilhões. A captação líquida, diferença entre o dinheiro novo que chegou e o que foi resgatado, foi de R$ 30,46 bilhões – a maior desde 1995.

Considere que durante todo o ano de 2019, a poupança angariou R$ 13,33 bilhões. Só em abril de 2020, captou mais de duas vezes o total do ano passado. O total aplicado na poupança por todos os brasileiros alcançou R$ 881,66 bilhões, um recorde. Dados como estes são sempre divulgados pelo Banco Central, mas o que será que podemos aprender com eles?

Não preciso lembrar que estamos em um momento único no mundo, com uma desaceleração econômica abrupta por conta da necessidade de isolamento social e cuidados com a pandemia do coronavírus.

Faz sentido crescer tanto assim a captação de um dos piores investimentos do país? Sim. Não. Mais ou menos. Qualquer resposta pode ser trabalhada para “explicar” o que aconteceu (e continua acontecendo). Vamos palpitar um pouco juntos?

Caderneta de poupança inchou com o auxílio emergencial?

Um acontecimento óbvio que parece ter relação direta com o aumento da captação é o pagamento da primeira parcela do auxílio emergencial, parte de um programa de transferência de renda e apoio para profissionais liberais, autônomos e pessoas vulneráveis.

O dinheiro do auxílio foi depositado em uma poupança, e muitos brasileiros ainda não bancarizados não tiveram como sacar o dinheiro ou mesmo usá-lo para pagamento de contas no dia a dia.

Segundo informações oficiais da Caixa Econômica Federal do dia 30/04, 50 milhões de brasileiros receberam em abril o equivalente a R$ 35,5 bilhões. Como o pagamento acaba acontecendo ao longo do mês, dá pra imaginar que uma parte do total ficou represada na poupança enquanto a maior parte foi realmente retirada/utilizada, dada a realidade financeira das famílias afetadas.

Caderneta de poupança cresceu já que gastamos menos?

Outro pensamento que faz sentido, mas que talvez não seja condizente com um volume tão expressivo de dinheiro, é o de que pessoas que mantiveram maior isolamento e estão trabalhando de casa puderam economizar e guardar parte destas economias.

Em um momento tão complicado, é desejável mesmo que tenhamos a consciência de que guardar dinheiro faz muita diferença, mas será que a poupança é a melhor alternativa para isso? Ela é a mais conhecida e acessível, mas é sempre bom lembrar que existem alternativas.

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Caderneta de poupança ficou mais interessante que outras aplicações?

Uma coisa interessante aconteceu em março de 2020: a poupança teve ganho real (acima da inflação), algo que não acontecia desde novembro de 2019. A rentabilidade foi de 0,21%, enquanto o IPCA (medido pelo IBGE) ficou em 0,07%. Nos últimos 12 meses, no entanto, o IPCA está em 3,30%, bem acima dos 2,1% de retorno anual da poupança.

Em meio a um cenário de altíssima volatilidade na renda variável, com o mercado de ações reagindo de forma muito tensa a toda e qualquer novidade em relação à pandemia e nossa situação política (sempre um capítulo à parte), muitos investidores acabaram rebalanceando suas carteiras e procurando algo mais seguro e previsível.

Some a isso mais dois fatores: 1) muitos fundos de renda fixa ofereceram rentabilidade negativa em março e abril por conta da marcação a mercado dos títulos públicos; e 2) vários fundos de crédito privado (debêntures) também tiveram retorno negativo em março.

Clique e confira nosso vídeo!

Conclusão

Parece que a poupança, velha conhecida de todos, (re)apareceu quase que como um oásis. Sabemos, na verdade, que não é bem assim, mas nestes momentos o investidor sempre pensa que é melhor garantir pouquinho que correr o risco de perder ainda mais. Modo sobrevivência ativado.

Tudo que eu levantei neste texto pode ser facilmente refutado e até mesmo distorcido. O apaixonado pela calmaria da poupança pode dizer que estou enaltecendo a caderneta e que devemos aplicar nela. Não estou e não disse isso.

O apaixonado pelo risco pode dizer que o ideal é fazer exatamente o oposto, ou seja, aproveitar que todo mundo está fugindo dos ativos com mais volatilidade para comprar mais ações e negociar na bolsa de valores. Será mesmo?

Eu fiz a ressalva de que a resposta para a captação recorde de abril de 2020 seria cheia de pitacos. Algumas coisas até fazem sentido, mas em se tratando de dinheiro, educação financeira e tomada de decisões, sempre há mais complexidade do que as aparências mostram. Você concorda?

Foto: Pixabay

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