É mais importante evitar as derrotas do que tentar acertar as vitórias no mercado financeiro para ser um investidor de sucesso, avalia o escritor e investidor bilionário Howard Marks em sua carta trimestral publicada nesta terça-feira (12).
Em sua “memo” mais recente, o cofundador da Oaktree Capital, gestora com mais de US$ 179 bi sob gestão, detalha a sua abordagem sobre o risco e volta ao tema da sua 1ª carta de 12 de outubro de 1990.
“Se evitarmos os perdedores, os vencedores cuidarão de si próprios”, disse Marks naquela ocasião.
O impacto da frase foi tão forte em sua filosofia de investimentos que ele e seus sócios na Oaktree a escolheram como lema quando a fundaram em 1995.
Arte negativa
O escritor faz uma “mea culpa” ao admitir que, em 2005, enquanto atualizava a edição de 1940 do livro “Investimento em Valor”, de Benjamin Graham e David Dodd, descobriu que a sua ideia já estava descrita ali como a “arte negativa” do investimento em renda fixa.
A princípio, explica Marks, aquela observação parecia cínica, mas depois compreendeu a que ela se referia.
O exercício proposto é o seguinte:
Imagine que existam 100 títulos corporativos que pagam 8% ao ano em circulação. Suponha, ainda, que 90 pagarão juros e principal conforme se propõem e dez ficarão inadimplentes.
Todos os que cumpriram com as obrigações pagarão o mesmo retorno de 8%, não importa quais você comprou.
Ou seja, a única coisa que importa é se você comprou algum dos 10 que estão em default.
“Por outras palavras, os investidores melhoram o seu desempenho não por meio do que compram, mas através do que excluem — não encontrando vencedores, mas evitando perdedores. Aí está: uma arte negativa”, lembra.
Novak Djokovic
Marks compara a “arte negativa” ao estilo de jogo de Novak Djokovic. O tenista é conhecido pela abordagem mecânica e previsível em suas partidas.
Com isso, o sérvio ganha a maioria das partidas com os erros adversários, e não com jogadas arriscadas.
Essa ideia foi traduzida em um gráfico adaptado de risco e retorno, sobrepondo à linha uma série de distribuições de probabilidade em forma de sino viradas de lado.
Em vez de sugerir que assumir mais riscos — movendo-se da esquerda para a direita no gráfico — garante retornos mais elevados, esta nova forma de encarar a relação sugere que à medida que se assume mais riscos o retorno esperado aumenta.
Isso acontece, contudo, com a gama de resultados possíveis tornando-se mais amplas e as más possibilidades revelando-se piores.
Essa análise de risco pode ser ampliada para fora do mundo dos investimentos, assim como para os esportes.
Ao lado de Djokovic, Marks lembrou de outros dois grandes jogadores.
Carlos Alcaraz Garfia é um tenista mais jovem do que o sérvio e analisado como muito agressivo. Arrisca com jogadas variadas que empurram seus adversários para trás e abrem a quadra para as finalizações.
Já Christopher Eubanks, que desenvolveu o seu jogo em quadras duras, usa saques fortes para desestabilizar os seus oponentes a todo momento.
Qual é o seu alfa?
Por fim, Marks desenhou o gráfico acima para resumir a sua ideia sobre os riscos e a postura de cada investidor sobre ele. Vale lembar, contudo, que a habilidade pessoal, em cada ponto do eixo, conta na equação final.
Afinal, é o “alfa” que cada um dos tenistas possui ali que faz com que eles sejam vencedores, cada um em seu ponto da variável do risco.
Em outras palavras, a habilidade pode permitir que alguns investidores tenham um desempenho superior, enfatizando a agressividade e outros, enfatizando a defensiva.